Os dados recentes de inflação têm demonstrado uma inequívoca melhora nos últimos meses. O IPCA, tanto o índice cheio quanto no tocante aos núcleos, está cadente e isso é uma grande notícia, particularmente no Brasil, que convive com uma inflação muito elevada desde 2021.
Em abril, o dado da inflação oficial foi de 4,18%, já próximo à meta imposta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 3,25% para o ano e distante dos 12,13% verificados em abril de 2022.
O processo de desinflação da economia é inequívoco e ininterrupto desde o começo do ano. A suspeita de que a reposição de impostos sobre combustíveis iria afetar no curto prazo os índices de preços não se verificou. Entretanto, preocupa o fato de as expectativas de inflação captadas no Focus estarem ainda muito elevadas. Na semana em que escrevo este artigo (última semana de maio), a mediana das projeções estima uma inflação de 5,71% para este ano e de 4,13% para o próximo (quando a meta será de 3%).
Particularmente estou mais otimista com a velocidade da desinflação, com implicações para o futuro de curto prazo da política monetária. Isso porque há vetores desinflacionários atuando na economia que podem acelerar esse processo.
Em primeiro lugar, destaca-se um ininterrupto, porém ainda suave, movimento de apreciação do câmbio nominal (real/dólar). Nas proximidades da eleição do ano passado, a moeda americana flutuava em uma banda de R$ 5,30 a R$ 5,50. Hoje, tem flutuado numa banda de R$ 4,90 a R$ 5,00, com viés de novas apreciações. Um real mais apreciado significa produtos importados mais baratos em moeda nacional e tem inequívocos efeitos desinflacionários. Se nos próximos meses novas apreciações do real forem verificadas nos dados, a inflação pode cair mais rapidamente.
Um segundo vetor desinflacionário em ação é a própria dinâmica da inflação nestes meses mais recentes. Em termos mais técnicos, é o formato da Curva de Phillips.
Ainda que as expectativas para o ano sigam desancoradas, elas têm um peso relativamente baixo na determinação da inflação atual. Estimativas para séries mensais longas da Curva de Phillips no Brasil reportam que o formato "backward looking" prevalece, isto é, as defasagens da própria inflação explicam a maior parte do seu comportamento. Traduzindo, empresas remarcam seus preços hoje ponderando mais a inflação no passado do que a esperada para o futuro.
Há vetores advindos também da política econômica. Quanto à fiscal, a aprovação do arcabouço na Câmara, com a inclusão de gatilhos para o seu cumprimento, é um sinal claro de mudanças no padrão da política econômica. Independentemente de eventuais críticas sobre pontos específicos, ela rompe com o modelo vigente de discricionariedade fiscal via emendas à Constituição inaugurado no Orçamento de Guerra e findado na PEC de Transição.
Pelo menos no curto prazo, isso é um bom sinal para agentes privados que tomam decisões. Já quanto aos efeitos sobre a política monetária, hoje em campo bastante contracionista, é possível que sinais de afrouxamento já sejam dados na próxima reunião do Copom por vias de sua comunicação formal.
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