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O que a Folha pensa Rússia

Putin volta ao ataque

Bloqueio à exportação de grãos e dificuldades de Kiev elevam tensão mundial

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Terminal de grãos danificado após ataque russo, em Odessa (Ucrânia) - Ministério da Infraestrutura da Ucrânia no Facebook/Reuters

Após acumular desgastes múltiplos na condução da guerra contra a Ucrânia, incluindo um inédito motim de mercenários contra suas Forças Armadas, o presidente Vladimir Putin parece ter retomado a iniciativa da Rússia no conflito maior que trava com o Ocidente.

Suas forças até aqui barraram a contraofensiva ucraniana na guerra, um esforço bancado por armas da Otan (aliança militar liderada pelos EUA), e ainda pressionam pela primeira vez com sucesso uma nova frente de batalha no nordeste do país invadido em 2022.

Mas o sinal mais vistoso da assertividade foi a algo previsível suspensão da participação de Moscou no acordo que permitia, desde julho de 2022, que Kiev exportasse grãos pelo mar Negro.

Putin já havia congelado o arranjo, mediado pela ONU e pela Turquia, em outras ocasiões. A queixa sempre era a mesma: o pacto paralelo para facilitar a exportação de sua produção agrícola e de fertilizantes não estaria sendo cumprido pelos países ocidentais.

Assim, após uma subida inicial no dia do anúncio, na segunda passada (17), os preços do trigo e do milho pareciam rumar à estabilidade. Até que Putin começou a bombardear portos ucranianos.

Além disso, Moscou afirmou que qualquer navio rumo à Ucrânia seria visto como um potencial alvo militar, acabando com a esperança de Kiev de manter a exportação.

Ato contínuo, os ucranianos também declararam o mesmo sobre embarcações em direção à Rússia, interditando de vez o mar Negro. Os mercados tremeram, e a semana fechou com o trigo em alta de 5% em Chicago, a referência de preços para contratos futuros do grão.

O acordo de julho de 2022 ajudou a derrubar em um terço o preço do trigo, tirando assim gás do surto inflacionário de alimentos que a guerra promoveu. A Ucrânia responde por cerca de 10% do mercado mundial do grão, dominado pela Rússia, com 20%.

Por ora, russos e australianos garantem estoques cheios. No caso do milho, a supersafra brasileira também traz boas notícias. O problema é que isso não irá durar para sempre, e o clima tornou-se um fator cada vez mais imponderável, como a seca argentina prova nas lavouras de trigo do país.

A solução, como disse o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, talvez seja ouvir as queixas de Putin desta vez. É algo justo, mas carrega o ônus de premiar com uma vitória política o uso de força bruta.

editoriais@grupofolha.com.br

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