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Alternância preciosa

Com troca de governo, fecha-se o cerco sobre Bolsonaro, mas deve-se seguir a lei

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Jair Bolsonaro (PL) fala com a imprensa no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília (DF) - Sergio Lima - 30.jun.23/AFP

Torna-se mais claro, a cada novo dia, que Jair Bolsonaro (PL) de fato contava com a impunidade na hipótese de ser reeleito presidente. É difícil identificar outra explicação razoável para a desfaçatez com que ele e aliados atacaram as instituições democráticas e escarneceram da coisa pública.

No episódio mais recente, investigações da Polícia Federal indicam que Bolsonaro se valeu da estrutura do governo federal para negociar bens preciosos recebidos de autoridades estrangeiras.

Entre os suspeitos de participar da falcatrua está Frederick Wassef, o advogado de Bolsonaro notabilizado após o policial aposentado Fabrício Queiroz ter sido preso na sua propriedade em Atibaia (SP).

Além dele, são alvo das apurações Osmar Crivelatti, tenente do Exército que atuou na ajudância de ordens da Presidência, e Mauro Lourena Cid, general da reserva e pai de Mauro Cid, também ex-ajudante de ordens e personagem recorrente nas tramas bolsonaristas.

Coube ao tenente-coronel Cid, como se sabe, armazenar em seu celular um arsenal de teorias heterodoxas que justificariam uma possível intervenção militar depois da eleição vencida por Lula (PT).

Em outra frente, Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, é investigado sob suspeita de ter utilizado a corporação para interferir no segundo turno das eleições de 2022.

Apura-se ainda se a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) se conectou a um famigerado hacker para, entre outras finalidades, prejudicar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Todos esses, para não citar rol ainda mais extenso de aliados do ex-presidente, tornaram-se alvo da PF neste ano —e é pouco provável que encontrassem destino semelhante num eventual segundo mandato de Bolsonaro.

Colhem-se, dessa forma, alguns dos benefícios da alternância de poder: o aparelhamento das instituições de Estado se desfaz com a chegada de um novo grupo político e, ao menos na teoria, elas operam durante certo tempo sob a lógica pura da administração pública.

Disso decorre que as investigações, bem como as determinações judiciais, precisam de máximo rigor ao seguir a lei, para que de nenhum modo se confundam com um revanchismo rasteiro. Prisões mal fundamentadas como a de Silvinei Vasques, por exemplo, em nada ajudam na recuperação do vigor democrático brasileiro.

editoriais@grupofolha.com.br

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