Descrição de chapéu
Renan Ferreirinha

Epidemia de distrações na sala de aula

Proibição de celulares estimula aprendizagem, socialização e convivência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Renan Ferreirinha

Secretário municipal de Educação do Rio de Janeiro

Percorri centenas de escolas públicas do Rio de Janeiro nos últimos anos e, nas unidades da cidade, um assunto recorrente sempre foi o uso indiscriminado de celulares por parte dos estudantes. Vivemos hoje uma verdadeira "epidemia de distrações". Se para os adultos o uso excessivo do aparelho é um problema, imagine para as nossas crianças. A perda de atenção é gigante: é como se o aluno saísse da sala de aula a cada notificação.

Da convivência social ao trabalho, diversos aspectos das nossas vidas foram afetados pela tecnologia, incluindo a forma como aprendemos e ensinamos. Os telefones celulares são computadores na palma da mão, com acesso abundante a informações o tempo todo. Soma-se a isso o crescimento das redes sociais, com seus algoritmos projetados para nos envolver e desviar nossa atenção de forma viciante.

0
Alunos utilizam celular durante intervalo em escola no Paraná; no Rio, escolas municipais tiveram o uso vetado durante a aula - Mathilde Missioneiro/Folhapress - Folhapress

Por essas e outras razões, buscamos estar na fronteira do conhecimento em relação a diretrizes do uso de celulares e outros dispositivos tecnológicos nas escolas. Foi publicado um decreto do prefeito Eduardo Paes (PSD) determinando a proibição do uso desses dispositivos nas salas de aula das escolas municipais, exceto se autorizado pelo professor por razão pedagógica ou em casos de saúde.

Tomamos tal medida mesmo tendo como principal iniciativa educacional da Prefeitura do Rio a criação dos Ginásios Experimentais Tecnológicos (GETs), o modelo de escola mais inovador do país, baseado no ensino "mão na massa" e no método Steam (sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia, artes e matemática). São 70 GETs em 2023 e, até o ano que vem, serão 200 unidades na cidade. Acreditamos demais na tecnologia a favor do ensino, mas entendemos que, mesmo assim, regulamentar o uso de celulares nas escolas é uma medida necessária. A escola é um ambiente importante de socialização e convivência, e isso é drasticamente reduzido se os alunos ficam isolados em suas telas.

O Rio segue o caminho de países como México, Espanha, Holanda, França, Finlândia e EUA, que baniram total ou parcialmente o uso de celulares nas suas escolas. A medida está de acordo com o recém-publicado "Relatório de Monitoramento Global da Educação de 2023" da Unesco, que aponta quadros dramáticos de falta de estabilidade emocional, maior ansiedade e até diagnósticos de depressão causados pela exposição excessiva às telas digitais.

A Organização Mundial da Saúde também faz ressalvas: recomenda nenhum tempo de tela para crianças de zero a 2 anos e menos de uma hora de tempo de tela por dia para crianças de 2 a 5 anos. Precisamos enfrentar esse problema já.

Embora o mundo tenha tido avanços tecnológicos positivos e com diversas vantagens para a educação, é inegável que o uso inadequado dos aparelhos representa um obstáculo para o processo de aprendizagem.

Cabe a nós usarmos a tecnologia como aliada, não como vilã. É essencial lembrar que a educação é uma jornada que requer esforço mútuo. Estou convicto de que é possível alcançar um equilíbrio entre o uso responsável da tecnologia e um ambiente saudável de aprendizagem.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.