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O que a Folha pensa forças armadas

Imagem abalada

Dano à reputação das Forças pode ser revertido com investigação séria e punições

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General Tomás Paiva, comandante do Exército - Pedro Ladeira/Folhapress

Em boa hora o general Tomás Paiva mostra-se preocupado com os rumos da corporação que dirige. Na condição de comandante do Exército, ele distribuiu uma ordem interna com diversas medidas destinadas a resgatar o brio dos militares e restabelecer a imagem da instituição, degradada após os anos de governo Jair Bolsonaro (PL).

Ressaltando a necessidade de o Exército pautar-se pela legalidade e pela legitimidade, o general lembra que aos fardados competem direitos e deveres distintos daqueles que se aplicam aos demais segmentos da sociedade —a qual nem sempre, segundo o raciocínio, toma conhecimento das ações desenvolvidas pela Força terrestre.

Consta que Tomás pretende atingir dois alvos com apenas um tiro. No âmbito interno, mira sinais de insatisfação com a conjuntura política; no externo, aponta para o desgaste provocado pelas graves acusações que pairam sobre membros das Forças Armadas.

Admita-se a precisão do diagnóstico; há muito se afirma que a incursão dos militares no campo político deixaria um rastro de estrago e contaminação mesmo na hipótese, hoje descartada, de que os artífices da imiscuição tivessem nada menos que as melhores intenções.

Se o quadro é esse, a solução deveria passar pela despolitização das Forças Armadas, pelo apoio irrestrito a investigações do sistema judicial e pela tomada de providências concretas no âmbito administrativo —resguardado sempre o direito ao devido processo legal.

Eis que o comandante faz algo diverso. Busca formas de aperfeiçoar o sistema de saúde do Exército e elevar o soldo dos militares, sobretudo daqueles de baixa patente. Propõe, além disso, a criação de pautas positivas para a instituição.

Alimenta, dessa forma, a conhecida agenda corporativista das Forças Armadas, apegadas a privilégios injustificáveis e resistentes à apuração isenta de responsabilidades em todo tipo de malfeito.

Basta ver a leniência das conclusões no inquérito militar sobre possíveis falhas da caserna durante os atos golpistas de 8 de janeiro. Ou então o vexaminoso processo sigiloso que absolveu o general Eduardo Pazuello de participação em atos político-partidários.

Cumpre recordar, a propósito, o compromisso assumido pelos chefes das três Forças em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro José Múcio Monteiro, da Defesa. Na ocasião, conforme foi relatado, eles se declararam empenhados em garantir a punição de oficiais envolvidos em atos antidemocráticos.

Se pretendem reparar danos de imagem, não há melhor meio de começar do que esse.

editoriais@grupofolha.com.br

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