Descrição de chapéu
Isaac Sidney

O parcelamento sem juros no cartão de crédito deve sofrer alguma alteração? SIM

Diante da inadimplência, devemos buscar redesenho do rotativo e aprimorar parcelas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Isaac Sidney

Presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos)

As compras parceladas no cartão de crédito ampliam o poder de compra da população, aquecem a economia e desenvolvem o varejo. Mas é um modelo que precisa ser aprimorado para garantir às famílias juros mais baixos, ao comércio mais vendas e mais negócios para toda a cadeia envolvida nesse processo: bandeiras, bancos, lojistas, consumidores e maquininhas.

Com o Plano Real e o fim da hiperinflação, os brasileiros passaram a ter cartões de crédito como substitutos dos cheques pré-datados. Essa não foi uma simples mudança de meio de pagamento, mas, sim, de risco de crédito e de gestão da inadimplência.

Bancos dizem que parcelado sem juros contribui para patamar elevados das taxas de juros praticado no mercado local - Gabriel Cabral/Folhapress

De um lado, com o cartão de crédito, consumidores ganharam em comodidade e tecnologia. De outro, varejistas passaram a ter os bancos como aliados. Na época dos pré-datados, o comerciante arcava com o prejuízo dos cheques sem fundos. No parcelamento sem juros do cartão, o repasse dos bancos aos lojistas ficou garantido.

No início, havia equilíbrio entre todas as partes da cadeia: o parcelado sem juros no cartão tinha um horizonte de prazo curto, três a quatro meses, o que facilitava o planejamento financeiro familiar e o não acúmulo de dívidas.

O crescimento dessa modalidade causou grandes distorções e, principalmente, beneficiou apenas alguns elos da indústria. Os cartões passaram a ser o mais amplo mecanismo de concessão de crédito sem garantia, desequilibrando a equação crédito versus risco. O prazo dos parcelamentos cresceu vertiginosamente e, hoje, pode chegar a 24 meses sem juros.

Com a ampliação dos prazos, cresceu a inadimplência. Famílias perderam o controle dessas dívidas e, alavancadas, passaram a empilhar cartões de crédito. Em prazos muito estendidos, o cliente tem mais risco de falhar com seu pagamento.

Estudos da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) mostram que a inadimplência dos planos a prazo, comparada com planos à vista, é duas vezes superior na média. Já quando olhamos para o público de baixa renda, a inadimplência é três vezes superior. Endividadas, as famílias brasileiras perdem poder de compra, têm seu nome negativado, desaquecem a microeconomia e impactam na rentabilidade do varejo.

No Brasil, cerca de 75% das compras são feitas no parcelamento sem juros do cartão. EUA, Europa e mesmo outros países da América Latina trabalham de forma inversa: 60% da carteira, em média, com juros.

O prazo de financiamento impacta diretamente no custo de capital e no risco de crédito. A inadimplência é o principal fator que eleva as taxas de juros no país. No modelo atual, o risco, que na era do pré-datado ficava com o comerciante, agora é inteiramente dos bancos. E ainda alguns partícipes da cadeia ficam com as receitas de juros, não correm risco de crédito, não alocam capital e estimulam um ciclo vicioso de financiamento de longo prazo.

O tema é muito complexo. Acabar com as compras parceladas no cartão certamente não é a solução, muito menos tabelar juros artificialmente. Tendo como pressuposto a saúde financeira das famílias, é preciso analisar as causas dos juros para um redesenho do rotativo, de um lado, e, de outro, aprimorar o parcelamento de compras.

Por isso, gradualmente, temos de reduzir os prazos de parcelamento das compras sem juros, para sairmos de um equilíbrio instável para um equilíbrio estável, e nos alinharmos a padrões internacionais. Nessa transição, os bancos continuarão a cumprir o seu papel de irrigar a economia, criando novas experiências de crédito parcelado para o cliente.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.