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O que a Folha pensa mudança climática

Desmate acelerado

Ritmo da perda acelerou nos últimos anos; causas incluem economia e política

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Queimada de floresta na divisa entre o Pará e o Mato Grosso - Gustavo Figueiroa/Acervo Rede Pro UC

Mais que a flutuação inerente a indicadores mensais e até anuais, delinear políticas públicas exige séries históricas de dados que permitam captar tendências e corrigir desvios. No caso da perda de vegetação nativa, dá-se a atenção devida para a variação ano a ano, menos contudo para a escala de décadas.

A iniciativa MapBiomas, integrada por ONGs e instituições de pesquisa, lançou levantamento de longo prazo (1985-2022) que suscita alarme. A conclusão central da análise do enorme acervo de imagens de satélite indica que o desmatamento —no território nacional inteiro, não somente na Amazônia— está em aceleração.

Entre 2008 e 2012, o país perdeu 58 mil km² de cobertura vegetal. No quinquênio seguinte (2013-2018), foram 80 mil km². No último período (2019-2022), 128 mil km².

O relatório do MapBiomas destaca a coincidência da expansão na última década com a vigência do Código Florestal revisado em 2012. Decerto a flexibilização de algumas regras terá contribuído para o mau resultado, mas seria ingênuo apontá-la como causa isolada do fenômeno multifatorial.

Preços de commodities, desempenho da economia, resultados eleitorais, composição do Congresso e empenho fiscalizador, entre outras condições, também podem pesar muito. A esbórnia ambiental no governo Jair Bolsonaro (PL) é explicação decisiva, por exemplo, para a aceleração pronunciada do último quinquênio.

"Estamos nos distanciando do objetivo de proteger a vegetação nativa brasileira previsto no Código Florestal e do compromisso de zerar o desmatamento até o final desta década", vaticinou Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

A destruição de florestas, como se sabe, constitui a maior fonte de gases do efeito estufa produzidos no Brasil. Para haver chance de o aquecimento da atmosfera não ultrapassar 2ºC, como estipula o Acordo de Paris (2015), o mundo precisa cortar pela metade as emissões de carbono até 2030 e neutralizá-las até 2050.

O país, portanto, caminha na direção contrária, mas não é o único. A poluição climática segue em alta no planeta todo, assim como a ocorrência de eventos extremos —secas, ondas de calor, incêndios florestais, enchentes, ciclones.

De 1985 a 2022, o Brasil derrubou 960 mil km² de vegetação natural, ou 2,7 Alemanhas. Até aqui teve destaque o desmatamento na Amazônia, porém o bioma que mais perdeu cobertura nativa nesse período foi o cerrado: 25% em 37 anos.

Passou da hora de rever enfoques, prioridades e estratégias.

editoriais@grupofolha.com.br

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