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Um erro atrás do outro

Falhas em apostila do governo de SP mostram como guinada no ensino seria açodada

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Alunos do 5º ano da Escola Estadual Juventina Patricia Sant'Ana, em São Paulo (SP) - Jardiel Carvalho/Folhapress

Quem assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil em 1888? A medida tomada pela Princesa Isabel é das mais célebres da história nacional, mas, em material didático produzido pela Secretaria da Educação de São Paulo, o feito abolicionista cabe a dom Pedro 2º.

Esse nem de longe é o único erro crasso do conteúdo digital paulista, como revelou reportagem do UOL. Entre outros exemplos estão Jânio Quadros à frente da Prefeitura de São Paulo em 1961 (posto que ele deixou em 1955) e a existência de praias na capital do estado.

A inépcia vexatória é nova evidência de uma política pública formulada de modo açodado e felizmente deixada de lado.

Em julho, a Folha revelou que a secretaria abandonaria os livros didáticos impressos —distribuídos gratuitamente em todo o país pelo MEC— a partir do 6º ano do ensino fundamental. Em seu lugar, pretendia usar somente slides produzidos pela pasta.

Diante da repercussão negativa, o Bandeirantes recuou: voltam os livros físicos e permanece o conteúdo digital, distribuído na rede de ensino desde abril.

Vale dizer: sem o recuo, os alunos não apenas seriam privados dos livros do MEC, revisados e aprovados por especialistas do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), como expostos a erros factuais e gramaticais, também verificados, no material digital.

A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que fez as correções e que afastou os profissionais responsáveis pelos erros. A providência pode parecer óbvia, mas não deveria encobrir o principal —a imprudência da secretaria comandada em sua tentativa de guinada radical no ensino.

A pandemia prejudicou o aprendizado em todas as etapas da educação no país. A nota média em matemática dos alunos do 5º ano no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) caiu de 227,88 em 2019 para 216,85 em 2021; em língua portuguesa, de 214,64 para 208,01.

Na mesma base de comparação pelo Saresp (avaliação no estado de São Paulo), as quedas foram de 231,3 para 210,2 em matemática e de 216,8 para 198,2 em português.

Trata-se de perdas cuja recuperação exige grande esforço das autoridades, em especial no ensino público. A urgência necessária, entretanto, não pode se confundir com precipitação e improviso.

O governo paulista tem muito mais a fazer do que corrigir cartilhas e punir servidores.

editoriais@grupofolha.com.br

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