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O que a Folha pensa China

Esfinge viral

Mundo não sabe como surgiu a Covid-19, o que o torna vulnerável a novos vírus

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Cientistas em laboratório de pesquisa para patógenos perigosos do Instituto de Virologia de Wuhan (China) - Johannes Eisele - 23.fev.17/AFP

O flagelo da Covid-19 se encaminha para o rol das enfermidades com que a humanidade convive de modo resignado. Infecções pelo Sars-CoV-2 parecem estar em alta, porém, e não se pode dizer que o mundo saia bem preparado da pandemia para outras que virão.

Verdade que se desenvolveram vacinas eficientes em tempo recorde, que derrubaram os óbitos. Ainda assim, entre julho e agosto deste ano, foram registrados 1,5 milhão de casos novos —um aumento de 40% sobre período anterior, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

Já as 2.500 mortes observaram redução de 57%, mas a OMS faz a ressalva de possível subnotificação, porque vários países passaram a diminuir testagem e comunicação de infecções.

No Brasil, de 27 de agosto a 2 de setembro, último dado disponível, houve 12.149 novos casos, cerca de mil a menos que na semana precedente. Somamos 705.172 mortes, 10,1% do total no planeta, parcela desproporcional para país com 2,5% da população mundial.

O mundo está despreparado para enfrentar novas pandemias. Aqui, menos pessoas se vacinam contra Covid. No plano global, ainda se desconhece a origem do coronavírus e seu trajeto até a espécie humana, informação que contribuiria para deter vírus semelhantes.

Em 2002, surgira também na China a primeira pneumonia Sars causada por vírus de morcegos, contida em pouco tempo (menos de mil mortes). Mas a descoberta do animal intermediário entre morcegos e humanos, as civetas, se mostrou pouco útil para evitar a Covid.

No caso da pandemia surgida em 2019, nem isso se sabe. A investigação científica que poderia desvendar o enigma cedo foi capturada por disputas geopolíticas, polarização ideológica e conflitos de interesse, como mostra artigo no caderno Ilustríssima desta Folha.

Duas facções se entrincheiraram: uma defende que o Sars-CoV-2 teve origem zoonótica, natural; outra, que pode ter escapado de um laboratório. A cidade de Wuhan sedia importante instituto de virologia da China, que se especializou em coleta, análise e manipulação de coronavírus em cavernas infestadas de morcegos a 1.300 km dali.

A índole censória e repressiva do governo chinês nada ajudou, para dizer o menos, a decifrar a esfinge da Covid. Sem essa chave, outros coronavírus terão mais chance de alcançar a humanidade e devorar-lhe mais um naco da população.

editoriaia@grupofolha.com.br

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