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Adriano Oliveira

Quantos prefeitos o bolsonarismo elegerá?

Avaliações de governos locais ainda orientam fortemente escolhas do eleitor

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Adriano Oliveira

Doutor em ciência política, é professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e fundador da Cenário Inteligência; autor, entre outros, de “Do Bolsonarismo ao Retorno do Lulismo: Bolsonaro voltará ao poder?" (ed. CRV)

São as evidências do passado e do presente que possibilitam previsões. Nas eleições municipais de 2004, o PT elegeu 409 prefeitos. Em 2008, 558. Nas disputas de 2012, 2016 e 2020, foram 638, 254 e 179. De 2003 a 2010, o presidente da República era Luiz Inácio Lula da Silva. Portanto, nas disputas locais ocorridas na era Lula, 2004 e 2008, o número de prefeituras conquistadas pelo PT aumentou. Desse modo, é possível sugerir a seguinte relação: o governo Lula possibilitou a vitória do Partido dos Trabalhadores em mais municípios.

No ano de 2012, Lula não estava mais à frente da Presidência. Mas o seu partido venceu em 638 cidades. Ressalto que, em setembro de 2012, vésperas da eleição municipal, a aprovação do governo Dilma Rousseff era de 62% (CNI/Ibope). Proponho a seguinte hipótese: a popularidade da presidente da República condicionou a conquista de mais prefeituras por parte do PT.

O ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente nacional do PL, que diz projetar eleger cerca de 1.500 prefeitos no ano que vem - Danilo Verpa/Folhapress - Folhapress

Nas eleições municipais de 2016 e 2020, ocorre o declínio da legenda. Em ambas, o Brasil convivia com o auge da Lava Jato e com o início do bolsonarismo. Conclusão: a conjuntura nacional fortemente desfavorável ao PT permitiu seu definhamento na disputa para cargos de prefeito.

Na eleição de 2004, o PSL conquistou 25 prefeituras. Em 2008, 15. Nos pleitos de 2012 e 2016, 23 e 30, respectivamente. Em 2018, Jair Bolsonaro é eleito presidente pelo PSL. E assina a desfiliação da agremiação em 19 de novembro de 2019. Na eleição de 2020, o PSL garantiu 90 prefeituras. A hipótese que sugeri para explicar o desempenho do PT na eleição municipal serve para decifrar o desempenho do PSL: a presença de Bolsonaro à frente da Presidência possibilitou que a sigla conquistasse mais prefeituras na eleição de 2020.

Pesquisa Datafolha de dezembro de 2004, ano de eleição municipal, apontou que o governo Lula tinha 45% de aprovação. Em dezembro de 2008, ano em que o PT obteve 558 prefeituras, o governo Lula alcançou recorde de aprovação, segundo o instituto: 70%. O Datafolha identificou que, em 2020, o governo Bolsonaro era aprovado por 37% dos brasileiros. Esses dados sugerem que aprovações de presidentes da República explicam moderadamente a conquista de mais prefeituras por parte de seus partidos.

Quantas prefeituras o PL, atual legenda de Bolsonaro, conquistará em 2024? A conjuntura é desfavorável para o PL na vindoura eleição municipal. Observem que: 1 - Bolsonaro está sem mandato; 2 - é investigado pelas instituições; 3 - há intenso noticiário negativo envolvendo seu nome; 4 - os atos antidemocráticos liderados por militantes bolsonaristas radicais estão sendo combatidos fortemente pelo STF e pela PF; 5 - existe uma expectativa otimista para o desempenho da economia no próximo ano; e 6 - o governo Lula é aprovado por 38% dos brasileiros (Datafolha, setembro de 2023).

Considero o desempenho do PSL na eleição de 2020 para prever o número de prefeituras que serão conquistadas pelo PL: em 2016, foram 30. Em 2020, com Bolsonaro presidente, 90 (3 x 30). O PL venceu em 345 municípios em 2020. Portanto, num cenário ótimo, ele conquistará, em 2024, 1.035 prefeituras (3 x 345).

Mais uma vez afirmo que a conjuntura é desfavorável ao bolsonarismo. A popularidade do presidente Lula por região pode ser variável preditora do desempenho de PT e PL em 2024. No Nordeste, o governo Lula tem aprovação de 49% e, no Centro-Oeste/Norte, 35% (Datafolha).

Portanto, existe maior probabilidade de o PT levar mais prefeituras no Nordeste, e o PL no Centro-Oeste/Norte. Pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência revelam que são as avaliações dos governos locais que orientam fortemente a escolha do eleitor nas eleições municipais. O bolsonarismo e o lulismo, de acordo com as pesquisas, não explicam solitariamente o desempenho de um candidato a prefeito.

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