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Recuperar a PRF

Órgão coleciona escândalos após se voltar a operações ostensivas e repressivas

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Polícia Rodoviária Federal participa de operação na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro (RJ) - 11.fev.22/PRF-RJ no Instagram

A polícia rodoviária já gozou de ótima reputação no passado, a ponto de inspirar até a criação de um herói genuinamente brasileiro —que deu origem à série de TV "O Vigilante Rodoviário", sucesso de audiência nas décadas de 1960 e 1970.

O quadro hoje é outro. Foram tão graves os escândalos em que a Polícia Rodoviária Federal esteve envolvida nos últimos anos que um ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, sugeriu recentemente que sua existência deveria ser repensada.

Já o atual diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, disse compreender a indignação do magistrado e defendeu que, em vez da extinção, deveria haver uma revisão da política interna e da própria doutrina da instituição.

O episódio que deflagrou a mais recente onda de contestação ao órgão foi a morte de Heloisa dos Santos Silva, de apenas 3 anos.

A menina, que estava num automóvel com a família, foi atingida por disparos de policiais rodoviários federais durante operação na Baixada Fluminense. Não há, no entanto, nenhum protocolo conhecido que autorize atirar contra um veículo que não ameace a vida de agentes ou de terceiros.

Ademais, Heloisa passou nove dias internada até morrer e, nesse período, testemunhas apontam que 28 policiais estiveram no hospital. Ainda que alguns pudessem ter razões legítimas para a visita, é plausível suspeitar de uma possível tentativa de intimidar a família ou mesmo alterar provas (o carro estava estacionado ali).

O caso trágico de Heloisa não é o único a macular a imagem da PRF. Em 2022, agentes da instituição se envolveram no assassinato de Genivaldo de Jesus, morto brutalmente ao ser trancado com gás no porta-malas de uma viatura.

O órgão também se tornou suspeito de executar operação para afastar potenciais eleitores das urnas no segundo turno do último pleito presidencial —o diretor da época se encontra preso.

Jair Bolsonaro (PL) se empenhou para que a PRF deixasse de ser voltada principalmente para a fiscalização de estradas federais, sua vocação original, e passasse a realizar operações ostensivas e repressivas, não só em rodovias mas também em favelas e periferias.

O resultado pode ser medido em números. De 2018 para o ano passado, as mortes provocadas pela Polícia Rodoviária Federal dobraram, saltando de 22 para 44.

O debate sobre uma eventual extinção do órgão nem mesmo parece realista, entretanto não há dúvida de que ele precisa ser devolvido à função de salvar vidas.

editoriais@grupofolha.com.br

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