Pouca burocracia envolvida, relativa celeridade na execução e, sobretudo, inegáveis impacto visual e aprovação popular. Adotado há décadas por prefeitos país afora, o "asfalto de eleição", com durabilidades variáveis, é consagrado estratagema em disputas municipais.
Em São Paulo, com cerca de 20 mil km de ruas e avenidas e 9 milhões de veículos, a aposta não é diferente. De olho em um novo mandato e ainda em busca de uma marca, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) lançou, ao custo de mais de R$ 1 bilhão, o que seria o maior programa de recapeamento da história.
A promessa é pavimentar 20 milhões de metros quadrados até o fim de 2024. Cerca de 2.000 km lineares já teriam sido concluídos.
Tamanha massa asfáltica contrasta com a disparada de reclamações referentes a buracos nas vias.
Dados da ouvidoria mostram que foram 3.224 registros de janeiro a agosto, maior número desde 2017 e 88% a mais que no mesmo período do ano passado (1.712 queixas).
A gestão responsabiliza as concessionárias de água, luz e gás por atrasar as demandas de reparo e admite que há um passivo de 20 mil buracos à espera de atendimento. Só neste ano, essas empresas já foram multadas em R$ 97,7 milhões.
A Subprefeitura do Campo Limpo, que reúne bairros periféricos da zona sul, é a campeã em protestos. E são justamente as regiões mais afastadas do centro expandido as menos contempladas pelo programa de recuperação do asfalto.
Relatório do Tribunal de Contas do Município aponta falhas na Operação Tapa-Buraco em todas as regiões de São Paulo. Para os auditores do órgão, o "alto grau de degradação" das pistas atendidas torna os consertos uma solução paliativa e com os dias contados.
É evidente que, custosa, a pavimentação demanda esforço colossal numa cidade em que diariamente milhões de moradores dependem da mobilidade sobre rodas.
A menos de um ano do pleito, Nunes, entretanto, conta com capacidade recorde de investimento. São R$ 16,1 bilhões em 2023 —mais que o dobro do que seu antecessor, Bruno Covas (PSDB), dispunha no ano anterior à eleição.
O alcance das realizações, no asfaltamento ou em outras áreas ainda mais urgentes, deve priorizar os estratos mais vulneráveis da população. Trata-se de uma corrida contra o tempo —resta saber como será o caminho do prefeito até lá.
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