Ao longo de sua história, o Estado de Israel resistiu a inúmeras tempestades políticas. O sistema parlamentar e a crescente fragmentação política tornam quase impossível formar um governo sem amplas coalizões. Muitas delas, no passado, foram entre religiosos e laicos, esquerda e direita, conservadores e progressistas. Em 75 anos, o país já elegeu 25 parlamentos diferentes e teve 14 primeiros-ministros, de esquerda e direita, alguns deles eleitos duas ou mais vezes, mas com o apoio de coalizões diferentes.
Em tempos de crise e de polarização como o atual, este mesmo sistema pode formar coalizões infelizes com políticos extremistas que, mesmo com poucos votos, conseguem exercer uma influência significativa e ocupar cargos importantes. É o lamentável caso do atual ministro da Segurança Pública, Itamar Ben Gvir.
Considerado racista por boa parte da sociedade israelense e impedido de servir no Exército, uma vez que a instituição considerava suas ideias perigosas para a segurança nacional, Ben Gvir é o líder do partido de extrema direita Otzma Yehudit e já serviu como secretário-geral do Kahane Chai, partido extremista que foi proibido pela Justiça de participar de eleições. Está frequentemente envolvido em declarações desastrosas que não representam a grande maioria da sociedade israelense e são frequentemente repudiadas por membros da coalizão liderada por Netanyahu, bem como pela oposição.
Fora de Israel, os grupos de ódio que são contra a própria existência de Israel buscam rapidamente publicar cada frase de Ben Gvir nas redes sociais, para tentar provar que o país é tudo isso que o ministro representa. Mas não é. Se concorresse sozinho, sem uma legenda mais ampla, Ben Gvir teria quatro cadeiras de 120, que é o mínimo para entrar no Parlamento. Suas declarações muitas vezes são rejeitadas por outros ministros e repudiadas na imprensa e nas ruas. Suas intenções políticas raramente se materializam.
Acontece, porém, que os grupos anti-Israel têm uma estratégia clara: tirar a legitimidade da existência do único Estado Judeu do mundo. As frases e atitudes de políticos extremistas como Ben Gvir servem de munição para esses grupos ludibriarem seus ouvintes, como se Israel e a sociedade israelense fossem exatamente como Ben Gvir e os extremistas que o cercam. Nada mais longe da verdade. Ben Gvir não representa Israel ou seu povo como eles realmente são – democráticos, diversos e pluralistas.
Israel é uma democracia liberal com alta participação política. De acordo com a Freedom House, Israel tem uma pontuação de 77/100, superando países como o Brasil, que obteve uma pontuação de 72/100 em termos de liberdade. Israel legalizou o aborto em 1978, descriminalizou o uso pessoal da maconha, garante os direitos LGBTQ+, respeita todas as religiões e possui uma forte tradição de liberdade de expressão e de imprensa
Assim como nenhum ministro ou mesmo um governo pode representar totalmente um país e sua sociedade, Ben Gvir não pode ser visto como o representante de Israel. Muitas outras nações enfrentaram a sua porção de políticos polêmicos e radicais como Ben Gvir, mas seria injusto equiparar uma população inteira a tais indivíduos.
Como cidadão e ex-oficial acadêmico da Força Aérea de Israel, bem como defensor da democracia e dos direitos humanos, rejeito as declarações racistas desse ministro em relação à população árabe e estou certo de que, assim como Israel sobreviveu às guerras nas décadas de 1950, 1960 e 1970, aos ataques terroristas que mataram milhares de civis e às ameaças de outros países que prometem a sua desaparição do mapa, Israel irá sobreviver a todas as campanhas de deslegitimação que buscam demonizar o país e retratá-lo como algo que não é. Estou certo de que Israel também irá sobreviver a Ben Gvir.
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