Descrição de chapéu
O que a Folha pensa Banco Central

Inflação resistente

Diretor do BC aponta que alta dos preços não está domada, o que demanda cautela

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo - Gabriela Biló/Folhapress

O maior choque inflacionário global das últimas décadas, na esteira da pandemia de Covid-19, pegou de surpresa praticamente todos os principais bancos centrais do mundo, que foram obrigados a elevar rapidamente os juros.

Estancar a alta dos preços passou a ser a prioridade das autoridades monetárias, mesmo ao custo de uma possível recessão, que felizmente até agora não ocorreu.

Ao contrário, o vigor da economia nas principais regiões surpreende ao mesmo tempo em que a inflação cai na maioria dos países, sinal de que a subida dos juros até aqui teve resultados benignos.

No caso brasileiro, o Banco Central foi pioneiro entre seus pares, tendo iniciado o longo ciclo de aperto na taxa básica —de 2% para 13,75% ao ano— em 2021.

Nos últimos 90 dias, já houve redução de um ponto percentual. A trajetória da inflação se mostra positiva: a variação do IPCA deve cair de 5,78% em 2022 para 4,9% neste ano, segundo pesquisa do BC.

Enquanto isso, a economia continua a crescer, desafiando prognósticos de desaceleração. O avanço esperado por analistas para o PIB deste ano passou de 0,7% em janeiro para 3%, com desemprego em queda. Fatores como a expansão da safra e dos gastos públicos ajudam a explicar o desempenho.

Outros bancos centrais, como o Fed americano, estão um pouco atrás em seu trabalho e, se não subiram mais suas taxas, tampouco sugerem que haverá cortes de juros ainda por muitos meses.

Guardadas essas diferenças, a desinflação sem grandes custos até aqui sem dúvida se mostra um padrão global. Mas é preciso cuidado para não cantar vitória prematuramente. Ainda que o caminho trilhado tenha sido favorável, o final pode ser mais acidentado.

A imagem da última milha que reserva desafios tem sido usada com frequência. O diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, a empregou ao reconhecer que a convergência ainda é parcial.

Evidência disso são as expectativas de inflação, de 3,87% e 3,5% para os próximos dois anos, ainda acima das metas oficiais.

A prudência de Galípolo é bem-vinda. É preciso cautela diante das incertezas globais e também dos problemas especificamente brasileiros. Além da resistência da inflação dos serviços, o risco de descontrole fiscal está presente.

Mesmo que haja expectativa generalizada de descumprimento da meta de zerar o déficit federal em 2024, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa persegui-la.

As decisões do Executivo nessa frente serão cruciais para determinar quão acidentada será a jornada de controle da inflação e mesmo da estabilidade da economia. É bom que o BC esteja atento a isso.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.