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Letras mortas

Unicef confirma piora na alfabetização após Covid; efeito precisa ser minorado

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sala de aula infantil vazia
Sala de aula vazia durante a pandemia, em Caruaru (PE) - Divulgação/Prefeitura de Caruaru

Para além das 700 mil vidas de brasileiros levadas pela Covid-19, a pandemia, mesmo passado seu pior momento, deixou nódoas persistentes no tecido social. Entre as mais alarmantes figura o dano ao aprendizado de uma legião de estudantes, como na alfabetização.

O impacto era conhecido, pois aparecera na prova de 2021 do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Após a crise sanitária, só 43,6% dos alunos do segundo ano sabiam ler e escrever textos simples, ante 60,3% em 2019.

O lamentável retrocesso se confirma em estudo do Unicef, órgão das Nações Unidas dedicado à infância, com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). No ano anterior à Covid, 20% das crianças de 7 anos eram analfabetas; em 2022, o contingente sem letras saltou para 40%.

A pesquisa não se limitou à educação, baseando-se no conceito de pobreza multidimensional, que toma em conta vários tipos de privação. Constatou, por exemplo, que a segurança alimentar piorou ligeiramente, não obstante a renda familiar ter melhorado.

Com a ampliação do Bolsa Família, caiu de 40% para 36%, no mesmo período, a parcela de crianças e adolescentes com renda insuficiente. No entanto oscilou de 19% para 20% a daqueles sem rendimentos para garantir nutrição adequada, indício de que o ganho foi corroído pela inflação de alimentos.

Boa alimentação constitui fator crucial para o desenvolvimento cognitivo, portanto um quinto da juventude parte em desvantagem na aprendizagem. Com a piora na alfabetização, após prolongada suspensão das aulas no Brasil, o atraso ameaça condenar uma geração de garotas e garotos a vidas aquém de seu potencial.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que essa perda com a pandemia, se não for remediada, pode diminuir em 9,1% a renda desses jovens no curso da vida.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao menos dá sinais de estar ciente da gravidade da situação. Deu prioridade a essas faixas etárias no Plano Plurianual 2024/27 e anunciou o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada.

Mas não se trata só de verbas ou planos, e sim de ação. Os governos estaduais e municipais, maiores responsáveis pelo ensino básico, precisam estar engajados.

Uma cruzada nacional pelo letramento, abarcando toda a sociedade e não só o poder público em todas as esferas, se faz necessária. Após o sofrimento da pandemia, deixar essas crianças para trás lhes imporia nova privação que, no caso, nada tem de inevitável.

editoriais@grupofolha.com.br

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