Os argentinos decidem neste domingo (19) de quem será o mandato para presidir o país nos próximos quatro anos. As opções do segundo turno, o peronista Sergio Massa e o anarcodireitista Javier Milei, dificilmente resgatarão a nação vizinha da arapuca econômica em que se meteu.
Porção menosprezada no antigo império espanhol, a Argentina tornou-se um dínamo no final do século 19, quando a sua renda per capita se aproximava da dos Estados Unidos. O país sul-americano explorava com eficiência seu invejável potencial agropecuário, educava rapidamente a população e atraía muita imigração europeia.
Essa máquina engripou em meados do século 20, não por coincidência no momento em que ideias econômicas intervencionistas e populistas encontraram no peronismo a sua encarnação política. Hoje a renda argentina não ultrapassa um terço da norte-americana.
Insolvente em divisas não fosse o socorro financeiro do Fundo Monetário Internacional, a Argentina chega à eleição com inflação anual de 143% e em aceleração. O Produto Interno Bruto deve encolher 2,5% neste ano —terá passado metade do mandato de Alberto Fernández no vermelho.
O aparente paradoxo dessa situação é o ministro da Economia, Sergio Massa, ter-se qualificado, com a maior parcela da votação, para o segundo turno presidencial.
O custo dos analgésicos que Massa distribuiu no cargo para favorecer seu desempenho na urna, sob a forma de novas rodadas de subsídios e artifícios tarifários, se acumula no colossal passivo orçamentário que terá de ser enfrentado tão logo o vencedor do pleito presidencial seja conhecido.
Do outro lado está Milei, a propugnar pela dolarização de uma economia com aguda carência de dólares, o que redundaria numa recessão ainda mais brutal. O aventureiro ilude compatriotas com a ideia de que "abolir" o Banco Central resolverá a questão.
Autodeclarado "anarcocapitalista", Milei é a versão argentina do outsider de direita em voga nas democracias ocidentais.
Difamador das instituições, semeador de mentiras, vendedor de saídas fáceis e erradas, o desafiante tem tudo para dar com os burros n’água caso se sagre vencedor, até porque não terá maioria automática no Legislativo.
Em meio a tanta instabilidade econômica, é forçoso reconhecer a virtude da democracia na Argentina. Desde que se livrou de uma ditadura violenta, 40 anos atrás, o país não abriu mão de solucionar no voto e dentro da lei as suas divergências políticas.
É do interesse dos argentinos, do Brasil e da comunidade das nações democráticas que continue assim.
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