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O que a Folha pensa violência

Flanco aberto

Ao receber mulher ligada ao tráfico, governo se expõe em setor problemático

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Flávio Dino, ministro da Justiça - Gabriela Biló/Folhapress

Flávio Dino, da Justiça, é o ministro mais propenso ao confronto político no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dado aos microfones e às redes sociais, propagandeia ações da pasta, envolve-se em polêmicas e rebate adversários com veemência nem sempre aconselhável para o posto que ocupa.

Sendo ademais cogitado para uma vaga aberta no Supremo Tribunal Federal, tornou-se um alvo preferencial da oposição, em particular a bolsonarista.

Não espanta, pois, que uma trapalhada recente de seu ministério —cujo alcance ainda está por ser devidamente esclarecido— tenha gerado ruidosa repercussão.

Conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo, auxiliares de Dino receberam, em reuniões realizadas em março e maio, a mulher do líder da facção criminosa Comando Vermelho no Amazonas.

Luciane Barbosa Farias, ela própria condenada em segunda instância a dez anos de prisão por associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro, disse que levou ao ministério "um dossiê sobre as mazelas do sistema prisional".

Soube-se ainda, por relato do jornal O Globo, que ela teve neste mês uma viagem a Brasília paga pelo Ministério dos Direitos Humanos.

Trata-se, no mínimo, de descuidos em série, para os quais o governo não dispunha de boas explicações. Na Justiça, o secretário de Assuntos Legislativos, Elias Vaz, assumiu a responsabilidade por receber uma pessoa cuja condição disse desconhecer na época.

Já os ministros Dino e Sílvio Almeida (Direitos Humanos) responderam politicamente. O primeiro destacou a solidariedade prestada por Lula e outros; o segundo atribuiu os ataques recebidos a "próceres do fascismo à brasileira".

Fato é que o governo deixou mais um flanco aberto em uma área problemática para a esquerda nacional —a segurança pública.

Nos últimos anos, forças à direita foram bem-sucedidas em explorar o temor e a indignação da sociedade ante os níveis elevadíssimos de violência no país, vendendo soluções populistas e equivocadas, no entender desta Folha, como mais encarceramentos, policiamento linha-dura e maior acesso da população a armas de fogo.

Nesse campo, que ao lado da saúde, com 17%, está no topo dos problemas mais graves do país apontados no Datafolha, o governo petista e o ministério de Dino pouco apresentaram de concreto até aqui.

editoriais@grupofolha.com.br

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