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Delírio caribenho

Ditador da Venezuela ameaça estabilidade regional por apoio para pleito de 2024

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O ditador Nicolás Maduro discursa em campanha pela anexação de Essequibo, em Caracas (Venezuela) - Leonardo Fernandez/Reuters

Território algo maior que o Acre, com cerca de 120 mil habitantes concentrados na costa caribenha, Essequibo é um notório desconhecido para a maioria das pessoas que não moram na Guiana, onde fica está localizada a região.

Mas na Venezuela, 21 milhões de pessoas estarão aptas a ir às urnas neste domingo (3) para dizer, entre outras coisas, se Essequibo deve ser um estado sob comando de Caracas, a despeito do que pensam os moradores da área em disputa.

É uma contenda que remonta à colcha de retalhos colonial daquela costa ao norte da América do Sul. Britânicos herdaram Essequibo da Holanda e, em 1899, obtiveram laudo internacional garantindo esse direito para sua então colônia.

Em plena desconstrução do império regido por Londres, um acordo em 1966 aceitou debater reivindicação venezuelana, mas não seus termos, e prometeu uma solução. Meses depois, a Guiana conquistou a independência, e o imbróglio acabou remetido para a ONU em 1982.

O relativo desinteresse das partes envolvidas deixou o tema adormecido, mas em 2015 a descoberta de petróleo na costa de Essequibo mudou o jogo. Americanos da ExxonMobil estimaram uma reserva quase igual à do Brasil.

A Venezuela, usando sua retórica de centro acadêmico contra os EUA, sacou a carta do imperialismo, com a ONU decidindo em 2018 que o tema deveria ser resolvido pela Corte Internacional de Justiça.

Entre muitos vaivéns, inclusive a recusa de Caracas de aceitar a corte como fórum, a ditadura de Nicolás Maduro achou por bem marcar um plebiscito para, na prática, referendar a reivindicação. A corte não vetou a iniciativa, mas alerta contra quaisquer ações de fato.

A votação tem resultado previsível, já que Essequibo está para os venezuelanos assim como as ilhas Falkland (Malvinas) estão para os argentinos. Qualquer semelhança entre a ditadura agônica de Buenos Aires em 1982 e Caracas hoje não é mera coincidência.

Mas há diferenças. Maduro não parece à beira do fim, embora esteja sob escrutínio acerca da eleição presidencial de 2024, no qual seus rivais estão sendo barrados pela Justiça alinhada. Uma causa nacional, assim, cai bem ao contexto.

Tudo isso afeta o governo brasileiro. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu partido são aliados da ditadura de Maduro, a qual consideram uma grande democracia pelos plebiscitos constantes.

Um eventual, ainda que improvável, conflito levaria caos a Roraima, que recebe cerca de 400 venezuelanos todos os dias. O governo declarou estar alerta, mas sem de fato fazer algo a respeito. Como é possível que uma invasão de Essequibo passe pelo Brasil, a realidade pode obrigar decisões mais agudas.

editoriais@grupofolha.com.br

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