Superado o impacto econômico da pandemia, o Brasil teve no último biênio um crescimento acima das expectativas e do padrão desalentador que se mantinha desde a década passada. Entretanto um indicador impede que se vislumbre um ciclo de avanço mais duradouro —a taxa de investimento.
Trocando em miúdos, trata-se do dispêndio privado e público em infraestrutura e aquisições de máquinas e demais bens destinados a ampliar a capacidade de produção. Outros gastos do governo e o consumo das famílias podem dar algum impulso ao PIB, mas é o investimento que garante maior oferta de mercadorias e serviços.
Nesse quesito, o país já conta dez anos perdidos, como mostram os dados recém-reunidos na Carta de Conjuntura do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, vinculado à administração federal) e reportados pela Folha.
Na medição mais recente do IBGE, relativa ao terceiro trimestre de 2023, investia-se aqui o equivalente a vexatórios 16,6% do Produto Interno Bruto. No período correspondente de 2013, a taxa se encontrava no maior patamar deste século, de 21,5%.
De lá para cá, a cifra despencou na esteira do desastre econômico produzido pelo governo Dilma Rousseff (PT), atingindo 14,9% em 2017. Após um período de modesta recuperação, o alento pós-crise sanitária elevou o percentual a 18,3% em 2021 e 2022. No ano passado, porém, houve novo retrocesso.
Mesmo nos momentos menos ruins, o investimento nacional mal tem sido capaz de compensar a depreciação da infraestrutura e das máquinas já instaladas. Nossa taxa está bem abaixo da estimada pelo FMI no conjunto dos países pobres e emergentes, de 32%, e até no mundo rico, de 22,4%.
Entre os motivos da piora recente, o mais palpável é o aumento de juros promovido pelo Banco Central para o controle da inflação, que vem sendo gradualmente revertido nos últimos meses. É plausível que incertezas quanto à troca de governo e ao cenário internacional também tenham pesado na conta.
O mau desempenho, no entanto, é de longa data —e é forçoso associá-lo a inconsistências da política econômica, particularmente no controle da dívida pública.
É ilusório imaginar que um programa de obras governamentais possa dar impulso relevante à economia. Mesmo no auge da bonança das gestões petistas, em 2010, o investimento do Tesouro e de suas estatais não passou de 2,7% do PIB. Hoje, as restrições orçamentárias são muito mais severas.
Concessões e parcerias com a iniciativa privada, sob marcos regulatórios adequados, são um caminho muito mais promissor. Mas é fundamental, sobretudo, buscar um ambiente de estabilidade que dê confiança a famílias e empresas.
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