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Viagem ao passado

Com retomada de refinaria e plano de Mantega na Vale, Lula revisita velhos erros

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante cerimônia de retomada das obras na refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE) - Ricardo Stuckert/Divulgação Presidência

Uma característica de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu terceiro mandato é a falta de compromisso com os fatos quando tenta reabilitar fracassos de suas gestões anteriores, sejam obras ou pessoas.

Entre os empreendimentos, um dos mais notórios é a desastrosa refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, exemplo completo de mandonismo, corrupção e incompetência gerencial nas administrações petistas, cuja construção será agora retomada pela Petrobras.

Concebida com o parceiro ideológico Hugo Chávez para processar petróleo venezuelano, o projeto foi todo bancado pelo Brasil. As obras consumiram US$ 18 bilhões, quase dez vezes o orçamento original, e foram paralisadas em 2015 com a exposição dos escândalos na Petrobras. Só a primeira unidade da refinaria foi inaugurada, em 2014.

A estatal agora promete que gastará "apenas" mais R$ 8 bilhões para ampliar a capacidade da unidade existente e completar a construção de outra. A promessa é elevar o processamento de 100 mil para 260 mil barris por dia de petróleo a partir de 2027, e assim reduzir a necessidade de importação de diesel.

Lula foi ao canteiro de obras e se pôs a proferir falsidades, entre elas a risível tese de conspiração estrangeira contra a Petrobras e a velha cantilena do entreguismo de elites subservientes.

Os fatos, explicitados pelo Tribunal de Contas da União em caderno sobre o projeto lançado em 2021, são diferentes. O que houve foi o completo estouro das contas e o comprometimento da empresa num "ousado esquema de corrupção e desvio de recursos".

As questões de fundo, a que infelizmente o governo não se preocupará em responder, são se faz sentido completar a refinaria e, em caso afirmativo, se é a Petrobras a mais indicada a fazê-lo.

Dirigentes afirmam que com os recursos adicionais o projeto será rentável. É até plausível que seja (se desconsideradas as perdas anteriores), mas as contas precisam ser mostradas. A mesma promessa foi feita no início do projeto e depois ficou demonstrada a absoluta fragilidade das premissas.

É difícil acreditar que Lula e o PT tenham aprendido algo com os erros do passado quando seu governo alimenta abertamente o plano abilolado de conduzir Guido Mantega, o ministro que geriu o colapso econômico de Dilma Rousseff, ao comando da Vale —uma empresa privatizada há 27 anos, mas ainda sob influência do Estado.

É com ideias como essas que se procura convencer que mais um plano de política industrial, prestes a ser anunciado com subsídios estatais e exigências de conteúdo local, evitará a repetição de desperdícios, favorecimentos e resultados pífios do passado.

editoriais@grupofolha.com.br

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