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Se queres a paz

Em aceno a militares, Lula mantém gastos em Defesa, mas distorção continua

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Múcio Monteiro, ministro da Defesa - Pedro Ladeira/Folhapress

A simbiose entre militares e o bolsonarismo é fenômeno bastante conhecido e cujas motivações foram expostas com desassombro pelo mentor da volta dos fardados ao palco político, o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, em um livro-depoimento de 2021.

Os resultados, deletérios tanto para a institucionalidade como um todo quanto para o estamento militar, são igualmente notórios.

Na esquerda, nem sempre muito afeita a leituras mais sutis da realidade, a ojeriza aos fardados oriunda dos tempos da ditadura transmutou-se na crença de que todo militar é golpista em potencial.

Por óbvio, há setores dados a rupturas nas Forças Armadas, alguns envolvidos em intentonas desde antes da Proclamação da República —instaurada, aliás, por um golpe.

Também é evidente que essas franjas não foram majoritárias no tenso período entre a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o fatídico 8 de janeiro do ano passado. Se havia apoio a ideias de sublevação, ele foi domado.

A subsequente demissão do comandante do Exército por diversos fatores, como a leniência com as hordas que atacaram Brasília, acirrou os ânimos no novo governo.

O entorno mais à esquerda de Lula passou a pressionar por mudanças constitucionais acerca do papel das Forças. No entanto encontrou no chefe da pasta da Defesa, José Múcio Monteiro, uma barreira diplomática eficaz.

Leitor presumido do escritor romano Flávio Vegécio, o ministro sabe que "si vis pacem, para bellum", ou seja, se queres a paz, prepara-te para a guerra.

Assim como nos dois mandatos anteriores de Lula, a lição foi assimilada de forma pragmática. Seu governo manteve o padrão de gasto militar deixado por Jair Bolsonaro (PL). Ademais, segue em curso o crédito obtido pela Marinha por uma manobra que lhe permite gastar com navios de guerra por meio da estatal Emgepron, que não faz parte das contas do Tesouro.

As distorções se mantêm. Como mostrou a Folha, o gasto com pessoal chegou a 80% do orçamento da Defesa em 2023, mais da metade com inativos, enquanto o investimento respondeu por apenas 6,8%.

Quando houve oportunidade de lidar com o problema, na reforma previdenciária de 2019, os militares ganharam benesses adicionais.

As Forças Armadas sonham com o padrão da Otan, de 2% do PIB para o setor, ante o 1,1% de 2023. Mas a aliança preconiza 20% de investimento, algo inalcançável com a estrutura torta de dispêndio atual.

editoriais@grupofolha.com.br

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