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Silvana Krause e Carlos Borenstein

Barões na encruzilhada

Governadores com pretensões presidenciais enfrentam dilema da polarização

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Silvana Krause

Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS

Carlos Borenstein

Cientista político e consultor

Os governadores de estados têm uma indiscutível influência no destino da política nacional. Essa força é tão expressiva que o cientista político Fernando Abrucio cunhou o termo "barões da Federação" para caracterizar esse poder. Na nova democracia, eles foram protagonistas na transição política em 1985 e na Constituinte de 1988.

No entanto, de todos os presidentes após a redemocratização do país, apenas dois eram governadores: o mineiro eleito por eleições indiretas, Tancredo Neves (PMDB), em 1985, e o alagoano Fernando Collor (PRN), por diretas, em 1989. Esse dado é indicativo da existência de barreiras para um "barão" chegar ao "topo" presidencial.

Não há dúvidas de que há governadores com o projeto de conquistar a Presidência da República. Os movimentos relativos ao ato "Democracia Inabalada", realizado pelo governo no último dia 8, sinalizam a difícil construção desse projeto.

Democracia Inabalada, ato realizado no Salão Negro do Congresso um ano após os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 - Gabriela Biló/Folhapress - Folhapress

Se logo após os ataques de 8 de janeiro de 2023 os 27 governadores atenderam de prontidão ao chamado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), comparecendo a Brasília e endossando o movimento de união nacional em defesa da democracia, no ato "Democracia Inabalada" emergiu uma divisão. O que mudou desde então? Houve a presença de 12 governadores (AP, BA, CE, ES, MA, PA, PB, PE, PI, RN, RS e SE), e 15 estiveram ausentes (AL, AC, AM, DF, GO, MT, MS, MG, PR, RJ, RO, RR, SC, SP e TO).

Quando relacionamos os governadores presentes e ausentes no ato com o resultado do segundo turno da eleição presidencial nos estados, percebemos que a "polarização calcificada" —termo utilizado pelo cientista político Felipe Nunes— explica, em parte, a mudança de posição de importantes governadores.

Nas eleições de 2022, Lula venceu em 13 unidades da Federação (AL, AM, BA, CE, MG, MA, PA, PB, PE, PI, RN, SE e TO), enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) saiu vitorioso em 14 (AC, AP, DF, ES, GO, MT, MS, PR, RJ, RS, SC, SP, RO e RR). A presença no ato "Democracia Inabalada" de 9 dos 13 governadores de estados em que Lula venceu Bolsonaro e a ausência de 11 dos 14 governadores de estados em que Bolsonaro superou Lula dá pistas sobre os desafios para os "barões" que almejam o cargo máximo da República.

Um diz respeito à polarização lulismo versus bolsonarismo, influenciando o comportamento dos governadores, especialmente neste ano eleitoral municipal. Romeu Zema (Novo-MG) titubeou e não compareceu. Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) não se fez presente. Ambos gestores são apontados como pré-candidatos do campo bolsonarista para o pleito de 2026.

A surpresa foi o governador Eduardo Leite (PSDB-RS). Apesar de comandar um estado em que o bolsonarismo é forte, Leite, além de ser o único governador da região Sul presente, declarou que "o 8 de janeiro não pertence a ideologias políticas, é um chamado para permanecermos vigilantes, superando diferenças em nome do que nos une". Embora busque tangenciar a polarização, o gaúcho encontra obstáculos na conjuntura, que permanece polarizada —um desafio para as suas pretensões nacionais.
Tancredo e Collor conseguiram se eleger presidente em contextos políticos em que não havia eleições para governador paralelamente à disputa presidencial. Navegaram mais livremente diante da cerca estadual. Os "barões" com ambições nacionais lidam também com uma divisão que não diz respeito ao contexto nacional polarizado. Há a difícil arte de casar carreiras nacionais e estaduais diante de um sistema eleitoral fortemente federalizado sustentado pelo eleitorado nos estados.

Como mobilizar eleitores que não são do seu "curral" com pretensões de capitães de outras "capitanias" na disputa nacional?

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