Descrição de chapéu
O que a Folha pensa PIB

Dívida pública é risco a não subestimar

Passivo atinge 74,3% do PIB; sem contenção de gastos, alta vai pressionar inflação e comprometer crescimento da economia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Fachada do Banco Central, em Brasília (DF) - Gabriela Biló/Folhapress

A dívida pública brasileira aumentou do equivalente a 71,7% do Produto Interno Bruto para 74,3% no ano passado, conforme divulgou o Banco Central. O fato de a alta ter ficado abaixo do que se temia de início não a torna menos alarmante.

Se a diferença entre os percentuais parece pouca coisa, convém esclarecer que, em valores atuais, trata-se de um endividamento adicional de algo como R$ 280 bilhões, mais de R$ 100 bilhões acima do gasto anual do Bolsa Família —um montante com o qual arcará, com juros elevados, toda a sociedade.

Em padrões internacionais adotados pelo Fundo Monetário Internacional, o passivo governamental do Brasil chega a 84,6% do PIB, patamar com poucos paralelos no mundo emergente. Um dos poucos casos é o da quebrada Argentina, para a qual o FMI estima quase 90% do PIB.

Outros são Índia (com 81,9%) e China (83%), cujos PIBs crescem em ritmo muito superior.

Em demais países comparáveis, as proporções são bem menores, como no México (52,7%), no Chile (38,4%), na Turquia (34,4%) e na Rússia em guerra (21,2%).

Um dos motivos a tornar nossa dívida particularmente danosa é o fato de os juros domésticos estarem entre os maiores do mundo há décadas —período que atravessa governos de diferentes orientações e deveria ser suficiente para eliminar teorias conspiratórias sobre a política do Banco Central.

As próprias dimensões do endividamento ajudam a explicar os juros anômalos. Credores, afinal, tendem a cobrar mais de um governo deficitário que tem muito a pagar.

Entre outros fatores, também contribui para o fenômeno o excesso de crédito subsidiado, que força o BC a adotar taxas ainda mais elevadas para conter a atividade econômica e os índices de inflação.

Em quaisquer hipóteses, cumpre apontar que nem mesmo o muito improvável cumprimento da meta de déficit orçamentário zero neste ano bastará para conter o avanço da dívida pública como proporção do PIB —uma vez que os juros serão superiores ao ritmo de crescimento da renda nacional.

Nas condições atuais, o passivo continuará em alta contínua, como alertou a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para irritação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Trata-se de mera matemática.

Sem uma política de contenção dos gastos de governo, em especial os de caráter permanente, o desequilíbrio do Orçamento provocará pressão inflacionária, crédito escasso, desconfiança de consumidores e empresários, baixo investimento e, portanto, expansão econômica abaixo de medíocre.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.