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O que a Folha pensa Estados Unidos

Mundo se tornou um barril de pólvora

Instabilidade geopolítica causa recorde em gastos militares e, associada a populismo no Ocidente, recomenda cautela à diplomacia do Brasil

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Jatos F-16 da força aérea da Polônia durante exercício militar da Otan - John Thys - 4.jul.23/AFP

Nunca se gastou tanto quanto em 2023 com defesa no planeta, salvo em períodos de guerras mundiais. No ano passado, as despesas militares somadas de 173 países atingiram US$ 2,2 trilhões, o equivalente ao PIB brasileiro.

Esse montante, estimado pela organização britânica Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, disparou e deixou de emular o ritmo do crescimento econômico, como era o padrão, passando a refletir nova corrida armamentista.

A guerra na Ucrânia, deflagrada pela invasão russa em fevereiro de 2022, tornou-se um catalisador dessa militarização. O efeito não se resume a Moscou e Kiev; abrange fortemente países europeus que compõem a aliança ocidental da Otan, cujo dispêndio saltou 40% em apenas um ano.

Os EUA, líderes no ranking do gasto militar que consomem o mesmo que as 14 nações subsequentes, aceleraram despesas de olho no recrudescimento da ameaça da Rússia e, paralelamente, na rivalidade estratégica crescente com a China.

A polarização aguda entre Washington e Pequim tem sido outra alavanca do armamentismo global, estimulando o dispêndio militar dos dois gigantes e de outras nações na região indo-pacífica. Conflitos e escaramuças locais, como no Oriente Médio, também impulsionam a corrida bélica.

Se países se armam até os dentes, é porque percebem mais instabilidade geopolítica. Os vaticínios mais otimistas após a implosão da União Soviética, de que a Rússia e a China se pacificariam pela integração econômica em escala planetária, revelaram-se equivocados.

O barateamento dos artefatos de destruição —e o financiamento de governos estrangeiros interessados em fustigar adversários indiretamente— elevou a capacidade de causar estragos de grupos insurgentes e terroristas.

A validade da teoria de que potências nucleares teriam maior imunidade contra agressões estrangeiras está sendo colocada à prova. O fanatismo religioso e o ultranacionalismo que embasam plataformas de aniquilação do inimigo tampouco dão mostras de esmorecer.

Não bastassem as tribulações em nações que jamais se distanciaram da autocracia, os regimes de tradição ocidental enfrentam dentro de suas fronteiras uma onda populista que desafia fundamentos como a separação e a limitação dos poderes institucionais.

O quadro é delicado o suficiente para recomendar cautela à navegação diplomática de um país como o Brasil. Nesse ambiente, a escolha de aliados e de causas no plano internacional pode facilmente alimentar os adversários internos da democracia representativa.

editoriais@grupofolha.com.br

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