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Ensino obscurantista

Tarcísio insiste em modelo cívico-militar, em vez de usar recursos com sensatez

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Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

Eleito com apoio da base de Jair Bolsonaro (PL), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mantém seu discurso político distante do radicalismo e da intolerância da direita populista.

Em duas áreas essenciais, contudo, Tarcísio insiste no erro de respaldar teses bolsonaristas. Na segurança pública, a polícia coleciona operações sangrentas, e o governador, declarações impensadas; na educação, insiste na inclusão de militares na rede de ensino.

Ao defender o projeto de lei que cria o programa de escolas cívico-militares, enviado pelo Palácio dos Bandeirantes à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp)na quinta (7), Tarcísio disse que a iniciativa em "nada interfere com a rotina pedagógica da escola".

De fato, a atuação de policias militares e bombeiros da reserva nesse modelo não atinge o conteúdo curricular. Se regras disciplinares fazem parte de um sistema pedagógico, no entanto, por óbvio há interferências. Crianças são obrigadas a cantar o hino nacional, cortar o cabelo de determinado modo e a seguir outras restrições e normas rígidas de comportamento.

Entre 2015 e 2018, o número de instituições de ensino desse tipo no país passou de 93 para 120. Em 2023, após o programa de fomento instituído ao longo da gestão de Jair Bolsonaro (PL), eram 215.

No ano passado, o governo federal iniciou o processo de extinção dos aportes para o programa. Como resultado de embates ideológicos, diversos estados anunciaram que não só manteriam o sistema, como o expandiriam.

Alunos tanto de escolas militares (das Forças Armadas) quanto de cívico-militares (estaduais com presença militar) têm melhores resultados em avaliações de ensino.

Porém pesquisas mostram que isso se deve não à disciplina militar, mas a aportes em infraestrutura, formação de professores e expansão da carga horária —em relação a este fator, por exemplo, só 17% dos alunos paulistas estão em escolas de ensino integral.

Se governo e deputados paulistas querem melhorar a educação do estado, deveriam alocar recursos com base em evidências, em vez de seguir ideologia obscurantista.

editoriais@grupofolha.com.br

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