Com a decisão de pagar menos dividendos, a Petrobras amargou uma perda de valor de mercado na casa de R$ 55 bilhões em apenas um dia, com queda de 10,6% das ações no pregão de sexta (8).
A estatal lucrou R$ 124,6 bilhões no ano passado, cerca de um terço a menos que em 2023. A queda da rentabilidade já era esperada e não difere do padrão de outras grandes petroleiras mundiais, que também foram impactadas pelos menores preços do petróleo no mercado global.
O que surpreendeu foi a conduta a respeito da distribuição dos lucros aos acionistas, que se resumiu aos pagamentos ordinários previstos no estatuto da empresa. Não houve desta vez o desembolso dos chamados dividendos extraordinários, acima do mínimo.
A posição do conselho da companhia segue a preferência do governo, que quer mais recursos para investimentos —em descompasso com a recomendação da diretoria, que era a favor de pagamento maior aos investidores.
Não é novidade que o Planalto tem pretensões de reviver um ciclo de obras e projetos liderados pela estatal em outras áreas além da exploração e produção de petróleo.
Nesses planos há um pouco de tudo, de mais refinarias a energia renovável, passando por fertilizantes e distribuição de combustíveis, áreas que no passado levaram a perdas bilionárias e a um estratosférico endividamento.
É fato que a melhoria na governança da empresa, os olhos atentos da sociedade e o maior escrutínio de órgãos de controle tornam improvável uma repetição dos desmandos e da corrupção na escala do último período de euforia.
Mesmo assim, há risco considerável de mau uso dos recursos retidos. Em 2023, a nova direção da Petrobras foi cautelosa e promoveu mudanças graduais, não raro sob protestos e ensaios de intervenção não pouco sutis de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Temas como os preços dos combustíveis, a política de investimentos e até mesmo a distribuição de dividendos foram tratados com cautela. Mas acumulam-se pressões políticas capazes de degradar a gestão da gigante estatal.
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