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O que a Folha pensa mudança climática

Espectro do Antropoceno

Apesar do impacto da tecnologia, comitê descarta época geológica da humanidade

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Cientistas pesquisam vestígios do Antropoceno em sedimentos congelados do lago Crawford, em Ontário (Canadá) - Peter Power/AFP

O Cenozoico, idade geológica atual iniciada há 66 milhões de anos, caracteriza-se pela dominância de mamíferos, aves e plantas com flores. Subdivide-se em sete épocas, sendo a mais recente o Holoceno, que começou há 11,7 mil anos com o fim da última glaciação.

Há 15 anos, discute-se a proposta de introduzir uma nova divisão: o Antropoceno, a época do homem. Segundo o jornal The New York Times, a conclusão provisória defendida por comitê com duas dúzias de especialistas é a de que ainda é prematuro abrir um novo capítulo na história da Terra.

O planeta se formou há 4,5 bilhões de anos. Transformações portentosas deixaram marcas em suas camadas mais externas.

No Cenozoico irromperam cadeias de montanhas como Andes, Alpes e Himalaia. Intervalos mais curtos, como as épocas, delimitam-se com evento mais superficiais, como a retração de geleiras continentais ao fim do Pleistoceno, época que precedeu o atual Holoceno.

Se a história da Terra pudesse ser comparada com um calendário, os mamíferos teriam surgido em 30 de dezembro, e o Homo sapiens só iniciaria sua caminhada às 23h36min51s do último dia do ano.

O que caracterizaria, então, o suposto Antropoceno? A presença de microplásticos em sedimentos, por exemplo, foi descartada por especialistas quando se constatou que tais partículas de atividade humana podem migrar de uma camada a outra.

Ninguém duvida de que o planeta tem mudado de modo marcante a partir de meados do século 20, Vestígios inquestionáveis pontilham sua face: concreto, metais, cinzas de chaminés, poeira radiativa de testes nucleares, entre outros.

A dificuldade reside em definir de maneira inequívoca o limiar da nova época e sua marca distintiva. Especialistas preferem qualificar a transformação imposta pela espécie humana como evento geológico, não uma nova época.

Não se trata de negar que a humanidade esteja alterando de modo intenso o planeta, como a mudança do clima está a evidenciar. Permanece a relutância, contudo, em emprestar a seu impacto uma demarcação definitiva.

editoriais@grupofolah.com.br

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