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Polarização ameaça debate eleitoral em SP

Pré-candidatos deveriam deixar ideologia em segundo plano e discutir o que aflige os paulistanos, como violência e saúde

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Operação da Guarda Civil Metropolitana na região da cracolândia, no centro de São Paulo (SP) - Danilo Verpa/Folhapress

A pertinaz polarização que permeia a política nacional parece já engolfar a corrida eleitoral paulistana. Mesmo a sete meses das eleições municipais, a dicotomia ganhou tração nos resultados da última pesquisa Datafolha.

Os dois líderes da sondagem —o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB)— estão empatados dentro da margem de erro com, respectivamente, 30% e 29% das intenções. Os demais pré-candidatos não chegam a dois dígitos.

Como é sabido e alardeado por ambos, Boulos é o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto Nunes tem o apoio do ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL). Os dois próceres personificam a atual cisão política-eleitoral.

A bipartição do país, eivada por convicções peremptórias e ideologias arraigadas que por vezes nublam o debate e obstruem convergências mínimas, tende a ser ainda mais perniciosa quando transmutada para o âmbito municipal.

Na cadeira de prefeito, as demandas a atender vão além de polêmicas que recentemente inflamam setores da nação, como legalizar o aborto e descriminalizar drogas. Quase sempre são mais palpáveis e imediatas —e afetam diretamente o cotidiano dos cidadãos.

Nesse ponto, é sintomático que a segurança pública, cuja responsabilidade compete em maior escala ao Executivo estadual, seja o principal problema da capital para 23% dos entrevistados no levantamento. Saúde (16%), enchentes e canalizações (9%), transporte (7%) e zeladoria (5%) vêm na sequência.

Há, sim, muito o que se fazer nessas searas. O cuidado com a zeladoria, sobretudo na iluminação pública e conservação de vias; os gastos em educação e lazer; e o papel a ser desempenhado pela Guarda Civil Metropolitana são alguns exemplos diante de incúrias crônicas como a cracolândia e a famigerada gatunagem de celulares.

Conceitos e doutrinas, sejam de esquerda ou direita, também tendem a ser secundários quando se observa a explosão de moradores de rua ou o déficit habitacional de 370 mil domicílios. O mesmo vale para o futuro da cidade diante da mudança climática, que deve agravar a frequência de enchentes.

Mais que posicionamentos morais de seus representantes, interessa aos paulistanos saber como lidarão com o crescente subsídio ao transporte coletivo, a falta de expansão dos corredores de ônibus ou a fila para exames e cirurgias na rede pública de saúde.

Polarizações à parte, o que se espera ao longo da campanha é que candidatos e eleitores —estes inclusive ao escolherem os 55 vereadores— deixem de lado querelas ideológicas e atenham-se ao que de fato pode ser feito por São Paulo.

editoriais@grupofolha.com.br

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