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Jerson Kelman

Premiação para o bom ensino

A exemplo de Cingapura, bons alunos e professores merecem ser laureados

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Jerson Kelman

Engenheiro e colunista da Folha, foi professor da Coppe-UFRJ e dirigente da ANA, Aneel, Light, Enersul e Sabesp

Meu avô tinha limitada educação formal, mas havia crescido numa cultura em que o conhecimento era altamente valorizado. Por isso, tinha extremado orgulho dos meus muitos anos de estudo e da minha condição de professor. Lembrei-me dele ao ler nesta Folha a entrevista de Ng Pak Tee ("Fórmula de Singapura é valorizar professor, diz especialista", 3/1), autor de "Learning from Singapore".

Tee explica que, em 1965, quando Singapura se tornou independente, o país era pobre, com alto índice de desemprego e parte da população analfabeta. Porém, a atitude da população era de que "vamos enviar nossos filhos para a escola para que tenham vidas melhores do que as nossas... Valorizamos a educação. Esse foi o ponto de partida... Conseguimos recrutar professores do terço superior das suas turmas acadêmicas". E acrescentou: "Existe um prêmio prestigioso que homenageia professores excepcionais que o presidente de Singapura concede pessoalmente". Deu certo: Singapura conquistou o primeiro lugar entre 81 países no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) nas três matérias: leitura, ciências e matemática. O Brasil ficou nas posições 52ª, 61ª e 65ª, respectivamente.

Singapura tem sido historicamente muito bem-sucedida em matemática, em particular, e isso se deve em grande parte à forma como disciplina é ensinada - Edgar Su/Reuters - REUTERS

Quando era presidente da Sabesp, pensei que a empresa poderia premiar alunos de escolas públicas que obtivessem os melhores resultados no Enem. Embora não conhecesse na ocasião a experiência de Singapura, achava que estaríamos no caminho correto quando a população acompanhasse a performance de nossos jovens no Enem e no Pisa com a mesma atenção que dedica, por exemplo, aos que fazem sucesso na música ou nos esportes.

Como um bom resultado decorre não apenas do empenho pessoal do aluno vitorioso, mas também da dedicação e competência de seus professores, desde a primeira série do ensino fundamental, haveria premiação também para eles. O valor do prêmio de cada professor poderia, por exemplo, ser proporcional ao número de horas de aula em escola pública dadas ao aluno vitorioso. Talvez mesclado com alguma avaliação subjetiva do próprio aluno sobre os professores com quem mais aprendeu.

Na ocasião, a Sabesp contatou uma ONG educacional para ajudar na concepção da premiação. Mas a ideia não avançou. Primeiro, porque estávamos às voltas com a crise hídrica e não podíamos dedicar muito tempo ao assunto. Segundo, porque a proposta de premiar alunos e professores não foi bem recebida por alguns especialistas em educação, que valorizam mais a isonomia do que a meritocracia. Lendo a entrevista concedida por Tee, fiquei com pena de ter desistido de levar a proposta avante.

Tomara que o presidente Lula peça ao MEC uma avaliação da experiência de Singapura. O resultado da análise talvez o induza a entregar pessoalmente, com pompa e circunstância, os prêmios para a legião de "heróis nacionais", formada por estudantes que estudam com afinco e professores que ensinam com competência.

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