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VÁRIOS AUTORES

Um torneio de física só para meninas

Longe de segregar gêneros, busca-se construir mais uma porta de entrada

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Uma das principais caraterísticas da física é sua universalidade: as leis da física independem de quem fizer a medida ou o cálculo de determinado fenômeno natural —desde as partículas subatômicas até os limites do universo conhecido, passando por áreas que impactam nosso dia a dia, como a tecnologia quântica, as nanociências e a biofísica. Essa universalidade significa, entre outras coisas, que não existe física masculina ou física feminina.

No entanto, a física, como as outras ciências, é praticada por seres humanos, que trabalham, estudam e pesquisam na sociedade humana. E essa sociedade apresenta oportunidades e desafios muito diferentes para os diferentes gêneros. Tomemos como exemplo as olimpíadas científicas e, mais especificamente, as olimpíadas de física.

ilustração com fundo roxo contendo mulheres em atuação como astronauta, cientista, química
Meninas e mulheres na ciência - Edson Ikê/SoU_Ciência

Dessas olimpíadas participam anualmente centenas de milhares de estudantes do ensino médio brasileiro, em atividades que começam de forma lúdica e, nas fases finais da competição, se tornam bastante exigentes e qualificam para as olimpíadas internacionais. No entanto, dos 1.204 medalhistas nas olimpíadas brasileiras de física em 2023, apenas 235 (19,5%) são meninas, e dos 119 participantes brasileiros na Olimpíada Internacional de Física, em mais de 20 anos, apenas 2 (1,7%) eram meninas.

Essa disparidade em uma competição científica para estudantes do ensino médio se perpetua até os mais altos níveis do reconhecimento científico: De 224 ganhadores do Prêmio Nobel de Física até 2023 apenas 5 (2%) são mulheres. No Brasil, dos membros da Academia Brasileira de Ciências, apenas 14% são mulheres. E, de acordo com dados da ONU e da Unesco, as mulheres representam menos de 30% dos pesquisadores no mundo todo.

Para combater essa situação, os autores deste texto criaram, em 2023, o Torneio de Física para Meninas (TFM). Inspirado em competições e movimentos com objetivos semelhantes, tais como o Movimento Meninas Olímpicas, o TFM tem como objetivo não a segregação dos gêneros, mas, muito pelo contrário, a construção de mais uma porta de entrada no sistema das olimpíadas de física para que mais pessoas possam participar e se beneficiar desse ambiente educacional e estimulador.

Na sua primeira edição, o torneio atraiu quase 2.000 meninas de todas as regiões do Brasil e foi reconhecido pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) como Olimpíada Científica nacional. A segunda edição foi lançada neste mês no site https://tfcbr.inf.ufsm.br/fisica e está com inscrições abertas.

O Brasil tem um grande leque de talentos científicos. Infelizmente, muitos deles vão enfrentar enormes dificuldades para desenvolvê-los e contribuir com os avanços da ciência e do país. Iniciativas como o TFM são uma contribuição para minimizar esse problema. Não podemos desperdiçar talentos científicos por falta de oportunidades. E não podemos construir o futuro sem ciência —nem sem mulheres.

Klaus Capelle
Professor titular de física e ex-reitor da UFABC; é responsável pelas atividades educacionais do Instituto Internacional de Física (IIF) da UFRN

Maria Luiza Miguez

Professora de física do IFNMG e coordenadora do Torneio de Física para Meninas

Nara Bigolin
Cientista da computação, filósofa e coordenadora do Movimento Meninas Olímpicas do Brasil

Fernando Wellysson
Doutor em física e professor do Instituto Federal do Ceará; atualmente trabalha com Olimpíadas de Física no IIF/UFRN

TENDÊNCIAS / DEBATES
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