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O que a Folha pensa Governo Lula

Desarticulação de Lula reflete planos precários

Líder do governo acerta ao defender prioridade à agenda econômica, mas Planalto prefere teses petistas a plano realista

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Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), senador e líder do governo no Congresso Nacional - Pedro Ladeira/Folhapress

São sensatas as recomendações do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), para que a administração petista reduza os riscos de novas derrotas no Legislativo.

Em entrevista à Folha, o parlamentar defende que o Planalto e sua base de sustentação deem prioridade à agenda econômica, distanciando-se da chamada pauta de costumes —que tem fortalecido a oposição mais reacionária.

Faz sentido: propostas capazes de dar alento ao crescimento da produção, do emprego e da renda têm o potencial de aglutinar interesses de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da heterogênea relação de partidos representados no ministério. Tendem ainda, em tese ao menos, a enfrentar menor resistência das demais forças políticas.

O que Randolfe não pode dizer, dadas as suas funções, é que falta ao governo um projeto econômico coerente, realista e não limitado à expansão do Orçamento e à ressurreição de marcas petistas como o PAC —e que falta ao PT disposição para compartilhar poder com os parceiros da "frente ampla" da qual se valeu nas eleições.

Um exemplo quase prosaico da precariedade dos planos brasilienses se dá com a proposta de eliminar a isenção tributária para compras pequenas no exterior.

Tratava-se, no início, de uma das providências previstas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para elevar a arrecadação e conter o déficit galopante do Tesouro Nacional. Bastou Lula perceber que a taxação seria impopular, porém, para a retirada de seu endosso.

Já no Congresso a pressão de empresários brasileiros pela medida encontrou eco, e agora resta ao Planalto a tentativa de minimizar o desgaste com uma eventual sanção envergonhada ao texto.

Caso mais grave é o dos estudos para a contenção de despesas públicas conduzidos pela equipe da ministra do Planejamento, Simone Tebet, e desautorizados, sem muita sutileza, pelo comando petista —numa evidência do papel secundário reservado às forças de centro na Esplanada.

Lula prefere insistir em velhas teses de seu partido, como demonstrou mais uma vez ao intervir no comando da Petrobras, e deixar para o sucessor a tarefa de consertar os estragos nas contas públicas. São escolhas que encarecem tanto a gestão da economia quanto a de sua coalizão partidária.

A manter-se tal panorama, muita saliva ainda será gasta em Brasília com debates bizantinos sobre a articulação política e a comunicação de um governo com poucas ideias e não muitos votos no Congresso.

editoriais@grupofolha.com.br

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