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Flávia Pellegrino

Eleições municipais, desafios nacionais

Desconfiança no sistema de votação permanece, assim como desinformação e violência política

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Flávia Pellegrino

Jornalista, é coordenadora-executiva do Pacto pela Democracia

Dois anos depois das mais turbulentas eleições nacionais da nossa história, a população brasileira volta às urnas em 2024 para eleger representantes aos Legislativos e Executivos municipais em meio a um ambiente democrático ainda marcado por imensos desafios e preocupantes ameaças.

Uma delas diz respeito a uma nova realidade no contexto político do país: a desconfiança do eleitorado no sistema de votação brasileiro. Pesquisas recentes têm revelado que entre 30% e 40% dos brasileiros não confiam plenamente no processo de contagem dos votos.

Urna eletrônica armazenada na 1ª Zona Eleitoral de São Paulo - Rubens Cavallari -22.ago.2022/Folhapress

Tamanho descrédito em relação ao mais vital processo democrático de um país já seria por si só profundamente alarmante, porém o atual caso brasileiro é ainda mais estarrecedor devido à sua origem em campanhas de desinformação orquestradas por Jair Bolsonaro e seus aliados ao longo dos últimos anos. Mentiras infundadas ecoaram de maneira tão ampla junto a parte significativa da população que um sistema de votação histórica e mundialmente reputado por sua credibilidade e qualidade entrou para o rol do negacionismo brasileiro.

Muito embora o que esteve em jogo em 2022 seja drasticamente distinto do que permeia as disputas em 2024 e se possa acreditar que a pauta da credibilidade do sistema de votação terá menos centralidade que dois anos atrás, o fato é que essa passou a ser uma questão fundamental para a democracia no Brasil. São prementes os esforços para compreender como as narrativas do negacionismo eleitoral seguem ecoando em 2024 para que, assim, construam-se estratégias mais efetivas voltadas a proteger as eleições de 2026.

O desafio de resgatar a confiança da população brasileira no nosso sistema de votação é imenso, especialmente em razão de dois outros fatores de magnitude nacional também presentes no processo eleitoral deste ano: a complexidade de lidar com fenômenos oriundos de processos de desinformação e o nível de toxicidade e tensionamento político que ainda marcam o ambiente e a convivência sociais no Brasil.

A expectativa de avanços na regulamentação do ambiente digital não se confirmou, reduzindo a possibilidade de que tenhamos um debate público um pouco mais qualitativo, transparente e democrático durante o período eleitoral. O desmantelamento da construção que vinha sendo feita acerca do projeto de lei 2.630/2020, o PL das Fake News, no início deste ano foi um balde de água fria para a sociedade civil e para qualquer pessoa verdadeiramente preocupada com a construção de mecanismos —ainda que imperfeitos— dedicados a zelar pela integridade da informação no país.

Ou seja, os desafios democráticos não diminuíram de 2022 para cá. Além da provável tração eleitoral da extrema direita antidemocrática no país, seguiremos enfrentando os mesmos desafios dos processos sistemáticos de desinformação, da profusão dos discursos de ódio e da escalada de violência política, bem como da suspeição sobre o sistema de votação brasileiro.

Que neste processo eleitoral as atenções estejam voltadas às soluções de problemas locais, mas jamais baixemos a guarda para as grandes batalhas democráticas nacionais.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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