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Ataque de Datena a Marçal é péssimo exemplo na política

Agressão com uma banqueta durante debate é fato inaceitável; ambos os candidatos têm colhido más notícias nas pesquisas

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José Luiz Datena (PSDB) agride Pablo Marçal (PRTB) durante debate na TV Cultura, em São Paulo (SP) - Reprodução/TV Cultura

Há muito se sabe que José Luiz Datena (PSDB) tem pouco respeito pelo eleitor de São Paulo. Em 2016, 2018, 2020 e 2022, ele se apresentou para concorrer a cargos de prefeito, vice-prefeito e senador, mas desistiu nas quatro ocasiões, deixando como legado apenas a confusão que causou na disputa.

No domingo (15), contudo, o apresentador ergueu seu desapreço a um novo patamar ao agredir Pablo Marçal (PRTB) com uma banqueta durante debate promovido pela TV Cultura entre candidatos à prefeitura da capital paulista —também participaram Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo).

Seu gesto abominável provocou a interrupção momentânea do encontro, mas isso é o de menos; mais grave é o péssimo exemplo que dá sobre o uso da violência na esfera política.

De nada adiantou que o evento tenha sido norteado por regras mais rígidas —motivadas, é bom que se diga, pela insatisfação generalizada com o comportamento abjeto e reiterado do próprio Marçal em debates anteriores.

A reação virulenta de Datena ocorreu após uma série de ofensas desferidas por Marçal, a quem não falta repertório nem imaginação quando se trata de rebaixar a eleição a um campeonato de obscenidades e vilanias.

O que mais perturbou o candidato do PSDB foi o resgate de uma denúncia datada de 2019. Na época, uma repórter do programa de Datena, na Band, disse ter sofrido assédio sexual pelo hoje tucano. O jornalista respondeu que o caso não foi confirmado pela polícia, mas atingiu sua família e levou à morte de sua sogra.

Nada disso justifica a banquetada, e Datena deveria ser o primeiro a reconhecê-lo. Mas não: em nota nesta segunda-feira (16), embora tenha admitido o erro, ele afirmou não se arrepender do ataque perpetrado contra o autointitulado ex-coach.

Marçal, como é de seu feitio, procurou colher todos os dividendos possíveis do episódio, testando qual figurino serviria melhor aos seus propósitos. Sem nenhum medo do ridículo, até chegou a se comparar, pela posição de vítima, a Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump, que sofreram atentados contra suas vidas.

Datena não ficou muito atrás. De olho nas pesquisas de intenção de voto, tanto ele quanto Marçal sabem que as oportunidades estão se fechando. O apresentador, mais que o influenciador, tem pouco a perder —até agora, ele não fez mais que despencar nos levantamentos eleitorais.

No Datafolha mais recente, Datena apareceu com 6%, numericamente em quinto lugar. Na parte de cima da tabela, Nunes e Boulos se isolaram na ponta, deixando o influenciador na terceira posição e com rejeição em alta.

Entende-se a repulsa crescente que Marçal provoca: ele faz quase de tudo para atrair a atenção das pessoas e não mostra escrúpulos nesse mister; só o que não faz é debater os problemas da cidade que diz querer administrar.

editoriais@grupofolha.com.br

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