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O que a Folha pensa mudança climática

Governo acorda tarde para risco energético

Seca no próximo ano pode levar à situação de 2021, que beirou o racionamento; horário de verão volta a ser relevante

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Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia - Gabriela Biló/Folhapress

A seca recorde, o aumento do consumo de energia e o pequeno crescimento recente da oferta de eletricidade de usinas hidrelétricas e térmicas provocaram algum sentimento de emergência no Ministério de Minas e Energia.

Não há, por ora, perspectiva de faltar luz ou de ameaças para o abastecimento, mesmo em horários de pico. Especialistas dizem que o problema não será agudo até o ano que vem.

No entanto os riscos aumentaram. As folgas do sistema são cada vez menores. O agravamento da crise climática torna mais incertos os cenários de chuvas e consumo, para dizer o menos. Desde 2014, o país tem enfrentado secas e reduções grandes, de ano para outro, no nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Também há mais restrições para operá-las. Além do mais, o governo está atrasado.

Nesta semana, a pasta de Minas e Energia solicitou ao Operador Nacional do Sistema (ONS) um plano para lidar com os riscos de 2024 a 2026. O calor dos incêndios que se espalham pelo país, ao que tudo indica, ligou alertas.

O ministro Alexandre Silveira anunciou que avalia a volta do horário de verão, abandonado sob Jair Bolsonaro (PL) —a economia obtida com o expediente de fato deixara de ser relevante.

O governo afirma também, para certa descrença de estudiosos e executivos do setor, que ainda neste ano haverá um leilão de compra de energia de reserva. Silveira chegou a dizer que divulgará em setembro seu projeto de reforma do setor elétrico.

Os leilões de compra de energia, nova ou de reserva, estão atrasados. A possibilidade de adotar o horário de verão já deveria estar em estudo faz tempo, pois o comportamento do consumidor e a oferta de eletricidade têm mudado com frequência

A economia e a redução de riscos propiciadas pelo adiantamento dos relógios no centro-sul voltaram a merecer atenção.

O Brasil hoje conta com mais energia solar, 16,8% da capacidade instalada em 2023, que obviamente não atende às necessidades do pico de consumo do início da noite. Conta com mais energia eólica, 14,4% da capacidade, fonte que, entretanto, é sujeita a variações fora de controle.

O início da noite voltou a ter picos de consumo —são necessárias a energia de hidrelétricas e térmicas ou outras soluções.

Dadas as mudanças, afora as incertezas climáticas, deve sempre haver planos de contingência ou revisões de rota que possibilitem a redução rápida de riscos.

Em vez de pedir estudos, o ministério já poderia apresentar medidas possíveis. Uma nova seca em 2025 é capaz de levar o país à situação de 2021, quando se esteve à beira do racionamento.

A situação de perigo renovado indica que falta planejamento de longo prazo para uma época de crise do clima e mudança tecnológica. O Brasil está longe de ter um plano integrado para energia, desmatamento, uso da água e mitigação de desastres climáticos.

editoriais@grupofolha.com.br

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