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Natalie Unterstell

Lula pode ser o Churchill do clima?

É preciso ousadia do presidente, com uma adaptação acelerada para o Brasil

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Natalie Unterstell

Mestre em administração pública pela Universidade Harvard e presidente do Instituto Talanoa, think tank dedicado à política climática

Sim, mas a questão é como. Nos anos 1940, Churchill se tornou símbolo da resistência contra o maior desafio de sua era: o nazismo. Hoje enfrentamos um inimigo diferente, mas igualmente ameaçador —a emergência climática. Falta alguém que, com a mesma determinação, lidere uma resposta contundente. Até agora, nenhum líder do G20 comprometeu-se consistentemente com a transição energética e a adaptação à mudança do clima.

Talvez Lula tenha percebido que se adaptar é questão de sobrevivência nacional. Nesta semana, na Amazônia, determinou a criação imediata da autoridade climática, algo que vinha se arrastando desde a transição de governos. Parece ter sido obra de Marina Silva, hábil em revitalizar o que estava dado como impossível.

O presidente Lula e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva - Pedro Ladeira/Folhapress

O anúncio é promissor, mas insuficiente. Já vivemos os efeitos de um planeta 1,2°C mais quente. Os olhos dos brasileiros estão ardendo com a seca e a fumaça dos incêndios que consomem vidas e paisagens. O país precisa de estratégia com peso político, como condicionar investimentos públicos à avaliação dos riscos climáticos e promover resiliência aos riscos futuros em todas as oportunidades possíveis. Não se trata de favor.

Além disso, o Brasil tem vantagens para erradicar a causa: pode reduzir emissões mais rápido que outros e a baixo custo. O governo já avalia cenários. Mas descarbonizar localmente não basta, pois 25% das emissões globais estão ligadas ao comércio. Metais e grãos podem se tornar "verdes". Petróleo, não. Se Lula deseja ser uma liderança transformadora, precisa encaminhar um plano de transição energética convincente para o país e liderar globalmente.

Churchill sabia que a vitória não viria com medidas tímidas ou concessões. Da mesma forma, Lula sabe que pode liderar em uma questão existencial. Um teste será seu discurso na ONU, no fim do mês. Ele pode optar pelo papel de vítima, pedir ajuda e reclamar da injustiça climática. Ou firmar que seu legado será uma transição corajosa dos combustíveis fósseis, com adaptação acelerada para o Brasil. É preciso ousadia, presidente.

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