São muitas as séries preferidas dos leitores da Folha. Com a diversidade de oferta das múltiplas plataformas de streaming e canais por assinatura, o número de estreias superou, já há alguns anos, as 400 por ano —sem contar as reprises. Por isso, em interação com o jornal promovida recentemente, não houve unanimidade.
É inequívoco, porém, o apego dos espectadores-leitores por produções já encerradas, como as comédias "Seinfeld" (1989-1998, hoje disponível na Netflix) e "The Office" (2005-2013 em sua encarnação americana, hoje no ar pela Amazon Video) e o drama de suspense "Breaking Bad" (2008-2013, também na Netflix), além da eterna "Grey’s Anatomy" (2005-), sobre os dramas na vida da equipe de médicos do hospital Seattle Grace/ Grey Sloan.
"The Office é minha série favorita. Porque existe beleza nas coisas comuns, como disse Pam Beesly no último episódio", diz a servidora pública Mariana Fialho Nascimento, de Santo André (SP). "É importante rir do absurdo e do nosso cotidiano, pra que a gente nunca perca o apreço pelas coisas fantásticas disfarçadas de rotina."
Esta colunista concorda com ela e também tem a turma de Michael Scott em seu top 5. "Quem trabalha em escritório já conviveu com aquelas pessoas. Todos temos um pouco de cada um daqueles personagens", afirma o também servidor Patrick Ferreira da Silva, de Salvador, que fez uma foto com amigos emulando os personagens.
Jeferson Furtado, advogado de São Paulo, escolhe "Seinfeld" por motivos semelhantes: "a capacidade de contar histórias sobre algo simples do cotidiano".
"Era uma série que tinha tudo pra dar errado, mas foi melhorando ao longo do tempo com a construção e o estabelecimento de diversos personagens, terminando no momento certo", aponta. Terminar no momento certo, aliás, é mote de piadas diversas da série, geralmente protagonizadas pelo mesquinho George Constanza.
Os fãs de "Breaking Bad", escolha da agrônoma brasiliense Raquel Caroline Alves Lacerda e a médica niteroiense Isabel Maria Nogueira Teixeira, costumam citar a estrutura da história do professor de química convertido em megatraficante de anfetaminas. "O roteiro e as sequências são sensacionais", ressalta Edy Baldin, de São Paulo.
Outro drama pioneiro que trata do universo da dependência e do tráfico, "A Escuta" (2002-2008, HBO), também foi lembrado. O professor universitário Manoel J. Silva Neto, de Belém, fala do "alto grau de realismo" da série passada em Baltimore (EUA) que tem entre seus criadores um ex-policial.
"[Ela] se aprofunda na discussão das origens da violência com várias vertentes no contexto social, educação e jornalismo."
Sofisticação —desta vez não só no conteúdo, mas também na forma— é o que levou o artesão Gil Rozsa, de Juiz de Fora (MG) e o advogado Rodrigo Carneiro Leão de Moura, de Recife, a preferirem "Mad Men" (2007-2015), que acompanha as mudanças culturais nos Estados Unidos urbanos dos anos 1960 e 1970 do ponto de vista da equipe de uma agência de publicidade.
"Uma combinação admirável de sutileza, maturidade e elegância", afirma Rodrigo.
Mas nem só de saudades vivem os leitores-espectadores. Uma das séries mais mencionadas foi o drama familiar "This is Us", na Star+, que chega ao final com sua sexta temporada agora em 2022.
"A série aborda o cotidiano de uma família americana de classe média, alternando dinamicamente imagens do passado, presente e futuro, fazendo-nos relembrar de momentos parecidos com a nossa própria história", afirma a administradora de empresas paulistana Claudia O. Immezi de Alvarenga, que considera o "roteiro profundo e real".
"Cada episódio emociona demais, afinal família é onde experimentamos o amor e o perdão, idealmente."
A psicóloga Jacqueline La Rosa de Mesquita, de Porto Alegre, faz coro: "Ali vemos a maioria dos dramas humanos: a batalha do trabalho e da sobrevivência, o problema do uso e abuso de álcool e outras drogas, o preconceito racial e a questão da obesidade (outro forte preconceito da sociedade), as questões relacionadas à adoção, os efeitos psicológicos das relações familiares, as questões de gênero e do envelhecimento", enumera.
Há, claro, quem prefira a alegoria ao realismo. É o caso do industriário paulistano Fábio Alexandre Gomes, fã da cínica animação "BoJack Horsemann". Ou um número musical, como a arquiteta de São Paulo Giselle de Sousa e Castro, que elege "Glee" como preferida.
A ficção científica foi lembrada por três professores: o carioca Alexandre Pacobahyba Raposo, que acompanha "Babylon 5"; Isaias Lobao Pereira Junior, apreciador de "Agentes da Shield" de Palmas (TO) e Claudio Dybas da Natividade, que também é biólogo e pesquisador em Lucena (PB) e curte a nova "Fundação" (Apple), inspirada nos escritos de Isaac Asimov.
Os dramas históricos também têm eco entre o leitorado: o fotógrafo Carlos Eduardo Dalia dos Santos, de Carapicuíba (SP), curte a minissérie "Chernobyl" (HBO) "porque nos traz a verdade sobre décadas de mentiras soviéticas e é produzida com primor antológico".
"The Crown", drama sobre a família real britânica que também se prepara para a temporada derradeira, é a favorita do alpinista Demóstenes Monteiro, de Rio de Mouro, em Portugal: "O ambiente histórico-cultural que esta série aborda interessou-nos pois, gostemos ou não, aquela família mudou o curso da história".
Sucessos recentes, como "A Casa de Papel", "Maid" e "O Gambito da Rainha" —todas da Netflix— também despontam entre o público.
O jornalista e advogado João Trindade Cavalcante, de João Pessoa, atribui seu gosto por esta última a seu interesse juvenil pelo xadrez, embora aponte inverossimilhanças.
A segunda, que mostra a jornada de uma mãe solo e sua filha pequena, é aplaudida por seu posicionamento pela administradora Karen Ann Câmara Bezerra Sá, de Natal.
"‘Maid’ mostra como as mulheres são criadas na sociedade machista para serem inseguras e dependentes dos homens. Quem sabe se para as mulheres que assistirem essa série não será o início de uma libertação."
E "A Casa de Papel" também vale pela subversão, avalia o empresário Ediney Fortes do Prado, de São Paulo. "Quando os bandidos roubam o governo, eles se tornam os heróis perante a maioria das pessoas, subvertendo os conceitos", diz.
E sabem o que não apareceu entre as menções? A série mais assistida de todos os tempos, "Game of Thrones", que parece ter decepcionado mesmo no final.
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