'Empurrei caminhão atolado'; veja relatos de leitores no Dia Internacional do Voluntário

Folha reuniu depoimento de leitores com experiências marcantes

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Lauro de Freitas (BA)

Em 2015, Anne Carrari abriu desesperada o Google e digitou: "sobrevivi ao câncer de ovário". A esperança era encontrar outras mulheres que tinham enfrentado aquilo com o qual ela se deparava, um diagnóstico de câncer metastático, quando a doença se espalha para além do órgão de origem. Mas não achou ninguém.

O sentimento de solidão só fez crescer na paulista o desejo de se juntar a pessoas com histórias parecidas e, nos anos seguintes, passou a se dedicar integralmente à causa do câncer através do trabalho voluntário. "Estar presente nos hospitais certamente ressignificou a minha vida. Não existe nenhuma outra atividade que me preencha dessa maneira. O voluntariado é cura na minha vida", conta ela.

Anne Carrari posa em duas fotos, uma com cabelo raspado e outro de peruca
Após descobrir câncer em 2015, Anne Carrari resolveu se dedicar integralmente ao trabalho voluntário - Arquivo pessoal

Enquanto continua seu tratamento, a estudante de saúde pública de 47 anos é hoje voluntária no Instituto Oncoguia, no Movimento Todos Juntos Contra o Câncer e no Icesp (Instituto de Câncer do Estado de São Paulo), onde arrecada perucas para doar para pacientes em quimioterapia.

Anne Carrari arrecada perucas para pacientes em quimioterapia
Anne Carrari, 47, arrecada perucas para pacientes em quimioterapia em São Paulo - Arquivo pessoal

Já aquela busca no Google deu nome a um perfil influente no Instagram, com mais de 22 mil seguidores, dedicado ao acolhimento de pacientes oncológicos e à divulgação de saberes médicos e científicos. Tudo "para facilitar a jornada de outros pacientes. Para que mulheres me encontrem. E elas me encontram", diz ela.

A paulista é uma das leitoras que enviaram depoimentos à Folha relatando experiências em comemoração ao Dia Internacional do Voluntário. Desde 1985, a Organização das Nações Unidas (ONU) busca estimular, com a data, esse tipo de atividade em todo o mundo, caracterizada como uma prestação de serviço não remunerada e prestada por pessoa física e entidades públicas e privadas, com objetivos cívicos. Em seu último levantamento, de 2018, o IBGE apontou que 7,2 milhões de brasileiros praticavam algum tipo de voluntariado.

Abaixo, veja mais relatos de leitores sobre experiências de voluntariado:

Crianças vestidas com uniforme da escola correm
Crianças vestidas com uniforme da escola brincam em ONG de Ribeirão Preto, em São Paulo - Arquivo pessoal

Ajudo como voluntária em uma ONG/Escola no bairro do Ribeirão Verde, na cidade de Ribeirão Preto (SP). Fotografar as crianças retornando às aulas presenciais foi bastante emocionante. Os pequenos tinham um brilho nos olhos, uma alegria por estarem juntos e novamente na escola.
Bia Amorim, 39, sommelier de cervejas, Bonfim Paulista (SP)

Sou voluntária desde 2007 e atualmente coordeno o Centro Comunitário da Pituba, vinculado à Paróquia Nossa Senhora da Luz, em Salvador, na Bahia. Um dos projetos que mais me sensibiliza é chamado "Meu Lugar não é na Rua", que acolhe crianças entre 8 e 13 anos, em sua maioria moradores de uma região muito violenta.

No começo, o convívio entre as crianças e os voluntários não costuma ter contato físico, pois abraços ou outros tipos de afago são rejeitados — essas crianças associam o contato à agressão ou à ameaça.

Felizmente, isso passa, e, à medida que esses pequeninos começam a entender uns aos outros, presenciamos abraços mútuos e espontâneos, acompanhados de sorrisos envolvidos por uma aura de confiança e de paz ao redor. É uma vivência que se repete a cada nova turma. A conclusão é óbvia: carinho, respeito e segurança fazem toda a diferença!
Maria Elizabeth de Mendonca, 71, aposentada, Salvador (BA)

Em 1995, testei uma vacina contra a Aids para a Fiocruz. A Folha até noticiou. Foi uma experiência marcante sobretudo pelo preconceito que permeava toda a situação.
Eder Ramos de Oliveira, 56, inspetor escolar, Rio de Janeiro (RJ)

Um professor voluntário tira selfie com grupo de imigrantes com uniformes esportivos
O professor Fábio Lima com alunos imigrantes durante aula de esportes - Arquivo pessoal

Ser voluntário foi a maneira que encontrei para aprimorar novos idiomas e conhecer outras culturas. Fui voluntário numa ONG que trabalhava com imigrantes africanos. Ouvi centenas de histórias interessantes, mas destaco a do Usman. Ele tinha 26 anos e vinha do Níger. Fugiu de casa porque seu pai maltratava a sua mãe. Antes de chegar na Espanha, ele passou 2 semanas dormindo na rua em Marrocos, até conhecer uma pessoa que pagou sua viagem num bote do Marrocos até a Espanha. 50 pessoas num bote para 15.

Na ONG, inicialmente, eu promovia ações esportivas, mas depois comecei a dar aulas de espanhol para eles. Usman não gostava de futebol, mas era um excelente estudante e aprendeu muito rápido o espanhol. Eles diziam que minha maneira de ensinar era muito boa e não faltavam às minhas aulas.

Meu envolvimento com a ONG foi entre 2018 e 2021. Voltei para o Brasil por causa da pandemia, mas sigo com serviços voluntários na área de idiomas agora.
Fabio Lima da Silva, 44, professor de espanhol, Belém (PA)

Sou produtora de figurino e encontrei um trabalho voluntário pelo site do Atados. Compartilhei um pouco do meu conhecimento com mulheres empreendedoras que produziam roupas e estavam sendo capacitadas por uma organização. Depois dessa experiência, continuei como voluntária dando mentorias para as mulheres e ajudando na produção e criação das peças.

Foi lindo ver a melhoria e os resultados nas vendas. Aprendi muito com novos olhares para a minha vida e minha profissão. Foi uma troca muito rica e, a partir dessa experiência, criei uma marca de crochê que vende peças de crocheteiras do Ceará, dando visibilidade para mulheres que possuem um imenso talento e precisam de um apoio para vender seus produtos.
Liliane Morais, 58, produtora de figurino, São Paulo (SP)

Um grupo de voluntários empurra um caminhão atolado
Grupo de voluntários empurra caminhão atolado em Moçambique - Arquivo pessoal

Fui para Moçambique mais de 7 vezes passar férias e ajudar as pessoas da comunidade local, em diversos aspectos de suas vidas. Ajudei na construção de um centro comunitário de educação, o que incluiu ter que empurrar um caminhão com material de construção atolado junto com outros voluntários (foto acima).

Também usava boa parte do meu tempo para ensinar pessoas sobre a Bíblia e como podemos usar os princípios dela em nossa vida.

Foi muito bom poder ver realidades diferentes da minha e como as pessoas respondiam bem à nossa ajuda.
Jun Toshio Venturelli, 26, empresário, Curitiba (PR)

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