Leitores ponderam se é possível separar o autor de sua produção

'A obra ganha vida e, portanto, não é mais do artista, é da história'

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Nesta semana, a Folha perguntou aos leitores se é possível separar as declarações e posturas polêmicas de um artista de sua obra. As respostam se dividiram entre os que evitam totalmente e defendem que a produção é contaminada pelos pensamentos do autor e os que entendem que existe um contexto histórico e que, assim que finalizadas, as obras passam a pertencer ao mundo.


Eu acredito que é possível separar autor e obra, mas eu não consigo, pego ranço. O enredo de Harry Potter não tem nada discriminatório, mas a autora usa sua fama com a obra para ecoar suas convicções atrasadas e absurdas. Portanto, não dá.
Ronan Wielewski Botelho (Londrina, PR)

Não. A obra e o artista representam um conjunto e, caso o artista tenha um sério desvio de caráter, isso mancha o conjunto, diminuindo a admiração pela obra.
Carlos Leite (João Pessoa, PB)

O fato é que, se analisarmos com uma lupa, nenhum artista se salvará de ser criticado. Ser um artista com obras primorosas não garante bom caráter.
Maria Faria (Uberlândia, MG)

A escritora J.K. Rowling, autora da série de livros Harry Potter, acusada de transfobia - Suzanne Plunkett/Reuters

Sim. A obra ganha vida e, portanto, não é mais do artista, é da história, é de todo o mundo, é de sentimentos. As pessoas conseguem separar as criações de Deus do Deus criador, não? O artista pode ser o mais desumano e ter uma obra das mais humanas. Ou vice-versa. Então a separação existe.
Vinícius Knecht (Estrela, RS)

Não, não é possível. O artista cria a partir de seu arcabouço emocional, intelectual, suas memórias e sua personalidade. A arte pode não ser individualista, mas é uma expressão do eu.
Denise Antunes Accurso (Porto Alegre, RS)

Não! Não só artistas, mas figuras públicas de referência, mais do que tudo, hoje são influenciadoras. Dessa forma, se torna impossível separar a obra do seu autor. Obviamente, é importante analisar a obra como produto de seu tempo.
Veridiana Vera de Rosso (Santos, SP)

A qualidade musical, lírica ou artística de qualquer obra não deve se misturar com a vida pessoal dos artistas, exceto aquelas que são explícitas como um livro biográfico por exemplo. É muito maduro uma pessoa ouvir músicas de diversos artistas de espectros políticos opostos sem se importar ou julgar a música pelo posicionamento pessoal do artistas e é assim que as obras são mantidas em sua essência pura.
Igor de Falco (Itu, SP)

O pintor espanhol Pablo Picasso, em Mougins, na França - AFP

Antes de tudo, cada artista é um ser humano, passível de falhas e de erros, fruto de uma época cujos valores e pensamentos eram bem diferentes do que temos hoje. Analisar os fatos sob a ótica contemporânea nos ajuda a compreendermos o quanto evoluímos enquanto sociedade ao longo dos últimos anos. Mais do que isso, nos ajuda a identificar que ainda há muito trabalho pela frente para que alcancemos um patamar de excelência.
Rodrigo Alves Pereira (São Paulo, SP)

Acredito que seja possível porque o indivíduo pode ter posicionamento de caráter duvidoso e, ainda assim, fazer da sua arte algo relevante e que atinja o público que ele deseja, mas a ação de separar pode indicar indiferença do público perante a minoria atacada pelo artista.
Graciela Paciência da Silva (São Paulo, SP)

O que confere o atributo de raridade a uma obra é sua aura, ou seja, seu caráter único, a unidade da experiência no tempo e no espaço, de acordo com Walter Benjamin. Diferentemente da reprodutibilidade, a era do cancelamento não pode destruir a aura de obras de arte consagradas, premiadas e que envolvem muito mais que o caráter do autor.
Isabel Albuquerque (Fortaleza, CE)

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