'Flicts' foi o primeiro livro que parecia ter sido escrito para mim, diz leitor

Leitores da Folha falam de suas favoritas obras de Ziraldo e lembranças com o autor

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São Paulo

A menção da obra "Flicts" nas reportagens homenageando o cartunista Ziraldo, morto no último sábado (6), transportou o engenheiro civil Pedro Kopschitz Xavier Bastos, de 63 anos, de volta à sua infância.

Mais especificamente, à copa de sua casa, sentado com os irmãos, ouvindo sua mãe narrar a história da cor que não pertencia ao arco-íris. "Isso é mágico. Não é qualquer obra que tem esse poder de nos transportar no tempo, bastando escutar seu nome", diz.

Capa do livro 'Flicts', de Ziraldo - Divulgação

A Folha perguntou aos leitores como a obra do autor impactou suas vidas e se tem algum título marcante que gostariam de elencar.

O livro "Flicts" também foi citado por Maria de Lourdes P. Barros, 64, assinante de São Caetano do Sul (SP). Na escola, a professora do ensino fundamental fez a leitura para a sua turma. "Eu também me achava ‘flicts’", diz.

Este foi seu primeiro contato com Ziraldo. "A partir daí, li ‘O Menino Maluquinho’, ‘O Joelho Juvenal’ e tantos outros que comprava para presentear, mas lia antes. Gostava de ler também a Supermãe, que saía na página final da revista Claudia."

"Foi lendo ‘Flicts’ que senti pela primeira vez aquela pontada estranha, aquele nozinho na barriga. Foi o primeiro livro que parecia ter sido escrito para mim, sobre mim. É o livro que toda criança deveria ler"

Marcelo A. Mendes, 47

analista de sistemas (Rio de Janeiro, RJ)

Entre os jornalistas, o legado do cartunista no jornalismo brasileiro também é lembrado. Um dos fundadores de O Pasquim, veículo de oposição à ditadura militar do país, era por causa dele que Antonio Francisco de Melo, 73, de Cotia (SP) ia às bancas adquirir seu exemplar. "Seus comentários ácidos contra a ditadura eram um dos motivos pelos quais passei a comprar o hebdomadário."

O jornalista e quadrinista Romeu Manoel Coelho Martins, 49, de São José (SC) só teve contato com o semanário na biblioteca da faculdade. "Várias vezes trouxe edições encadernadas de empréstimo para ler em casa", afirma.

Para outros leitores da Folha, a relação com Ziraldo é interligada com o trabalho, como para Milton Luis Henrique de Araujo, que foi produtor de uma peça de teatro que adaptava "O Menino Maluquinho", em Campinas. Já a advogada Sofia Martinhão diz que o título também foi o responsável por motivá-la a ler tantos outros livros.

"O Ziraldo tinha um jeito diferente de se comunicar com as crianças e de fazê-las ter interesse pela arte e pela leitura. Vai deixar muitas saudades nos corações dos pequenos maluquinhos, que hoje já são adultos", escreve, de Tupã (SP).

Para Pollyanna Elizabeth Joanoni Pedro, 41, de Rio Claro (SP), foi difícil conter as lágrimas durante a leitura de "Menina Nina - Duas Razões para Não Chorar" com o filho. "A obra de Ziraldo nos coloca em contato com nossa essência, tão suprimida pela forma absurda com que vivemos nos dias atuais. Nos entrega leveza, humor, alegria e o sonho."

O publicitário Fabiano (Piu) Afonseca, 45, que atualmente mora em Nova York, relembra uma experiência pessoal com o cartunista. Aos 13 anos, Afonseca foi cenógrafo da peça "O Menino Marrom", com direção de Ademir Martins. "No momento em que uma cortina se abriu, revelando um painel de 6 x 4 metros que pintamos —reprodução da ilustração central do livro com rostos de crianças de todos os tons de pele —o Ziraldo, que estava sentado ao meu lado, me cutucou e, com lágrimas nos olhos, perguntou: foi você quem fez?’", afirma.

No dia seguinte, ele conta que foi à Bienal do Livro, em São Paulo, com os pais, e o autor o reconheceu na fila de autógrafos. "Quando ele me viu, abriu um sorriso enorme, se levantou, me deu um abraço e disse: ‘meu artista’".

Confira outras respostas dos leitores a seguir.


A Turma do Pererê permeia meu imaginário infantil com personagens e situações bem brasileiras, algo que só Lobato havia conseguido até então com o Sítio do Picapau Amarelo.
Leonardo Silveira (Itu, SP)

A frase do Ziraldo que marcou a infância de meus filhos foi: "Ler é mais importante do que estudar". Sempre que arrumavam um pretexto para faltar à escola, a troca era ler um livro, qualquer livro, mesmo de história em quadrinhos. Tornaram-se grandes leitores e craques em português.
Milena Piraccini Duchiade (Rio de Janeiro, RJ)

Minha mãe trocava gibis no jornaleiro, pois não tínhamos dinheiro para comprar outros. Uma vez ela apareceu com uma revista da Supermãe para colorir. Essa não poderia ser trocada. Assim, eu pintei aqueles quadrinhos com tanto cuidado. Por algum tempo, algumas tirinhas eu nem entendia, mas aquela mãe me marcou muito, porque a minha também era Super. Obrigada, Ziraldo, quero te apresentar para as minhas netas.
Simone Lessa (Rio de Janeiro, RJ)

Ziraldo e eu somos da mesma cidade, Caratinga, e ele sempre foi um grande incentivador e adorado na cidade. Ele era da mesma geração do meu pai e tios, fizeram serviço militar juntos. O Ziraldo sempre que ia à Caratinga e encontrava com algum conhecido do meu pai perguntava: como está o primeiro caratinguense do século 21? Ele fez um desenho do menino maluquinho com essa frase, que eu guardo com muito carinho em uma moldura, aqui nos EUA.
Roberto Francisco Ligeiro Marques (Seattle, WA)

Lembro de ficar encantado com a descrição de "O Menino Maluquinho", que parecia alguém super especial, mas era apenas alguém como eu, uma criança cheia de curiosidade e desejo de viver. Foi muito bonito relê-lo agora e me sentir próximo do adulto que o menino se tornou.
Maurício Bispo de Lima (São Paulo, SP)

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