'PMDB precisa sair da mesmice dos cardeais antigos', diz Pezão
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), 59, candidato à reeleição, afirmou nesta sexta-feira (17) que o PMDB deve se renovar, reduzindo o espaço de "cardeais antigos", sem nomeá-los. Ele defende que a sigla tenha candidato à Presidência em 2018.
Amigo pessoal da presidente Dilma Rousseff, o governador afirmou que seu apoio à reeleição da petista se deve principalmente ao relacionamento nos últimos sete anos e à decisão de aliança do PMDB Nacional.
Apesar disso fez elogios a quatro políticos tucanos. Pezão disse que a eventual eleição de Aécio Neves (PSDB) não seria um "retrocesso" para o país ou ameaça aos programa sociais, como diz a campanha do PT.
Ricardo Borges/Folhapress | ||
O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, candidato à reeleição pelo PMDB |
"O Brasil já ultrapassou isso. O Lula deu continuidade a políticas públicas do Fernando Henrique. O que é bom as pessoas tocam", afirmou o peemedebista, que não apontou diferença entre os dois presidenciáveis.
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Folha de S.Paulo - O Brasil está vivendo a campanha presidencial mais acirrada das últimas décadas. Como integrante do PMDB, que já esteve em governos tucanos e petistas, como o sr. vê isso?
Luiz Fernando Pezão - As outras eleições se definiram muito rapidamente logo no início [do segundo turno], nas alianças. Mas já tivemos eleições como a de [Fernando] Collor contra o Lula. Acho que é natural. Se o PSDB perder essa eleição fica numa situação muito difícil, já perdeu três seguidas. Acho que o PSDB se uniu muito. Houve esse instinto de sobrevivência do PSDB.
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse à Folha que a presidente Dilma errou muito na campanha. O sr. também vê esses erros?
Acho que não. Eu converso muito com ela, acho que ela se saiu muito bem. Uma pessoa que nunca tinha tido um cargo eletivo ser logo presidente. Você vê a dificuldade que o Lula teve no primeiro mandato. Acho que ela fará um segundo mandato muito melhor que o primeiro.
E se o PSDB ganhar, o que o sr. espera de um governo Aécio?
Ele fez um bom governo em Minas, é uma pessoa que foca muito a gestão. E ele tem bons quadros. Tem um extraordinário, que eu considero um dos melhores do Brasil, que é o [Antônio] Anastasia.
O PT vende a ideia de que Aécio seria um retrocesso para o país, para os programas sociais. O que o sr. acha?
O Brasil já superou isso. O Lula mesmo deu continuidade a uma série de políticas públicas do governo Fernando Henrique. O que é bom as pessoas tocam. Essa fase no Brasil já passou há muito tempo.
Por que o sr. apoia Dilma e não Aécio?
Porque o meu partido tirou, a nível nacional, essa proposta, que venceu na convenção nacional. Michel Temer é o vice da Dilma. Eu sigo o que o partido determinou.
E que diferenças o sr. vê entre os dois?
Eu tenho ótimo relacionamento com os dois. Mas a presidenta Dilma foi alguém com quem eu tive um relacionamento extraordinário. Nós assinamos de parceria nos últimos meses mais de R$ 10 bilhões de obras. A gente fez uma agenda que ajudou muito o Estado do Rio, e vai continuar a ajudar. Tudo o que levamos de pleito para ela foi atendido. Só tenho a agradecer. Por que não vou apoiá-la?
É um apoio mais de relação pessoal que política?
Pessoal e política. Mas o meu relacionamento pessoal com ela está acima da questão partidária. Tenho um relacionamento com ela de amigo. Na última vez que ela veio aqui, na última vez que ela podia inaugurar obra, ela passou dois dias aqui. Quando ela inaugurou [unidades habitacionais na] Frei Caneca ela se emocionou, chorou.
Por que o sr. acha que ela chorou?
Estava um período difícil, a eleição... Teve um movimento do "volta Lula". Ela estava um pouco... O PT também não tinha embarcado com todo mundo.
Diz-se que ela é muito solitária no Palácio. O sr. também avalia assim?
O poder dá solidão. É muito difícil. Você se enclausura muito.
Ela se enclausura mais?
Ela é uma pessoa muito agradável. Tem uma cultura extraordinária, um ótimo papo. Ela quer acertar. É difícil lidar com o Congresso Nacional, quem nunca foi [parlamentar]. O Aécio já foi presidente da Câmara, então tem o traquejo. Imagina uma pessoa pela primeira vez negociar com o Congresso Nacional. Sentar com os interesses diversos de 27 Estados. Mais de 500 deputados, 81 senadores. Não é fácil.
O sr. deu muitos postos de coordenação da campanha para nomes que defendem o Aezão. O sr. não fortaleceu a dissidência?
Não. Esse movimento foi estimulado pelo PT. Desde o momento em que o PT saiu da minha aliança, abriu espaço para entrarem o PPS, o DEM e o PSDB, que dão um tempo bom de TV e uma base forte. Eu tinha cinco candidatos a presidente na minha coligação. Em primeiro lugar, meu partido é o Rio de Janeiro.
Ganhando Dilma ou Aécio o PMDB vai estar na coalizão de governo em 2015?
O PMDB dá sustentação ao Brasil desde sempre. Toda a conversa passa por ele. Quase todos os partidos nasceram de dissidência do PMDB, são como filhos.
Mas o partido também fica com a pecha de adesista.
Eu vou lutar muito. O Sérgio (Cabral) tinha muito uma coisa de ficar mais aqui, na gestão. Eu quero participar muito das decisões do PMDB. O PMDB não pode mais perder a oportunidade de ter candidato a presidente. Esta é a última eleição em que o PMDB vai a reboque. Em 2018, a gente tem que que ter candidato.
E quem seria esse candidato a presidente? Eduardo Paes é um nome?
Não sei. A gente tem muitos quadros. O ex-prefeito [de Caxias do Sul] Ivo Sartori está em primeiro no Rio Grande do Sul. O PMDB tem a maioria dos prefeitos. Um partido que tem uma força dessas não pode ficar sem candidato.
De que forma quer participar mais do PMDB Nacional?
O partido precisa se oxigenar, sair da mesmice que existe ali, sempre aqueles cardeais antigos. Nada contra, que eles continuem. Mas que dê mais espaço. O nosso [candidato a] governador do Rio Grande do Sul [José Ivo Sartori], o Leonardo Picciani, Marco Antônio Cabral...
O Sérgio Cabral poderia ter um papel nessa renovação?
Atualmente ele quer descansar bastante. Sete anos e meio aqui não deixa ninguém ter tédio nem depressão. Sérgio é um grande quadro, com diversas políticas públicas é referência mundial: UPP [Unidade de Polícia Pacificadora], UPA [Unidade de Pronto Atendimento], por exemplo.
Sendo todo esse exemplo, por que ele não aparece na sua campanha?
Eu tinha que ser conhecido. Depois de ficar 60 dias no governo eu só era conhecido por 30% das pessoas. Ele me apresentou no primeiro programa eleitoral. Ele me apresentou e eu fui embora, não precisa mais de apresentação. Meu programa não tem o [prefeito do Rio] Eduardo Paes, que é o prefeito mais bem avaliado do Brasil. Chegamos aí a 41%. Quem tem que ser protagonista sou eu, defendendo o governo.
Na questão da captação das águas do Rio Paraíba do Sul, há um conflito com São Paulo. Como o sr. pretende resolvê-lo?
Ali é um rio federal. No consenso a gente consegue resolver. Tenho um ótimo relacionamento com o governador Geraldo Alckmin. Vamos chegar a um denominador comum. Acredito no diálogo, ainda mais entre amigos.
Se o Aécio vencer, pode haver uma decisão pró-São Paulo?
Mas o Aécio é mais carioca que mineiro. Ele defendeu empréstimo do Rio como o quarto senador do Rio. Um dia cheguei lá e o[s senadores] Lindbergh [Farias, PT] e o [Marcelo] Crivella não estavam lá. O [Francisco] Dornelles estava no gabinete. Ele mesmo encaminhou a urgência da votação. Vamos ter agora o [senador Antônio] Anastasia, outro senador do Rio. O [José] Serra é um grande amigo meu.
Todos que o sr. mencionou são tucanos.
Tenho uma amizade pelo Serra extraordinária, o que não impediu de apoiar a Dilma [em 2010]. Mas para mim é um dos maiores gestores que tem no Brasil. Fez um trabalho brilhante no Ministério da Saúde. Fui prefeito quando ele foi ministro. É um quadro de excelência.
O senhor está atacando Crivella, expondo na TV as ligações dele com a Igreja Universal e com o Garotinho. O sr. acha que essa linha é necessária?
Eu apanhei muito no primeiro turno, mas não dava pra brigar com todos, fiquei no meu canto me defendendo. Quando é um contra um.. O Crivella passou no primeiro turno tranquilo pela avenida. No segundo turno, vamos dissecar o que o apoia.
O sr. não vê contradição entre o ataque à Universal e o fato de ter ido à inauguração do Templo de Salomão, da Universal, em São Paulo?
Não. Eu recebi o convite, estava a presidenta Dilma, estavam 15 governadores. Fui como representante do povo do Rio. Não sou contra os fiéis da Universal. Eu acho que é perigoso misturar política e religião. A gente viu aí no Cimento Social: você vai escolher para receber a moradia quem é membro da Universal. Você ter isso dentro do governo do estado, com projetos sociais, é uma temeridade. Pede para não publicar pesquisas de opinião. O que é isso?
Acha que o segundo turno será uma eleição tranquila?
Acho uma eleição muito difícil, porque os três se juntaram. Tem dois candidatos populares, nas classes D e E, o Garotinho e Crivella. O Lindbergh também tem seu voto. Vou lutar até aos 49 do segundo tempo.
Em relação às UPPs, que passam por uma crise, um dos principais responsáveis é o secretário José Mariano Beltrame. Ele permaneceria num eventual novo governo?
Temos 38 UPPs. Se temos problemas em cinco é muito. No período eleitoral eles se assanharam, ainda mais com adversário dizendo que ia criar batalhão social, com conversas de parar por aqui, é um sinal extraordinário para o tráfico recrudescer. Ganhamos em todas comunidades com UPPs.
A UPP não virou um programa de varejo? No início do projeto a previsão era de 40 UPPs para todo o Estado. Hoje fala-se de mais 50 unidades [além das 38 já existentes].
É uma política que veio para ficar. Não tínhamos a dimensão do que era. Hoje temos um plano diretor de ocupação até 2020. Tirando a Maré, não tem mais nada do tamanho das comunidades que já ocupamos. Mas temos que continuar. Foi isso que permitiu trazer empresas, postos de trabalhos, e ter a maior renda per capita do país entre as regiões metropolitanas.
A permanência do Beltrame é necessária?
Eu fico sempre com a imagem do Fernando Henrique sentando na cadeira e o Jânio [Quadros] depois desinfetando. Não vou anunciar secretários. Tenho que ganhar eleição primeiro. Beltrame é meu amigo pessoal. Claro que é um quadro que valoriza a política de segurança. Mas tem que ver se quer continuar nesse cargo por oito anos.
A polícia ainda procura o corpo do Amarildo?
A Delegacia de Homicídios ainda investiga.
A DH já encerrou o inquérito.
E prendeu todo mundo.
Mas não encontraram o corpo.
Não encontraram. Eles vão a julgamento. Todos estão presos por investigação nossas.
Mas ainda existe um inquérito para localizar o corpo?
Acho que sim, tenho pedido muito que continue todas as investigações. Não só dele. Criamos uma delegacia de desaparecidos. O Estado tem o dever de dar essa resposta e tentar extrair no julgamento dessas pessoas para ver se a Justiça ajuda. Mas é diferente do que acontecia antes, quando sumiam 20 pessoas por dia, julgados pelo tráfico sem direito a defesa.
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