Delator diz que bancou R$ 2 milhões em voos de José Dirceu pelo país
Delator da Operação Lava Jato, o lobista Julio Camargo afirma que bancou gastos de R$ 2 milhões do ex-ministro José Dirceu com voos em jatinho pelo país. Os custos dos voos, disse o delator, eram abatidos de uma soma de propina que o ex-ministro recebia com origem na Petrobras.
Dirceu virou réu em ação ligada à Lava Jato nesta terça-feira (15), assim como Camargo. Os depoimentos do delator ajudaram a embasar a denúncia.
Os repasses a Dirceu, ainda de acordo com Camargo, somaram R$ 4 milhões e foram realizados de "modo informal" –por isso não foram apresentados documentos bancários relacionados. O delator disse que o então diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, "autorizava" os pagamentos.
"O custo dos voos em tais aeronaves, aproximadamente R$ 2 milhões, foram deduzidos dos valores que José Dirceu tinha para receber da empresa Apolo [fornecedora de tubos] e dos R$ 4 milhões", disse o lobista em depoimento, de acordo com a transcrição.
Camargo acrescentou que costumava "anotar" os voos realizados por Dirceu para depois cobrar os custos de viagem. Ele entregou uma planilha com dados de viagens feitas entre 2010 e 2011. Entre os destinos, estão aeroportos em Estados como Minas, Paraná e Bahia.
A aquisição de um dos dois aviões usados por Dirceu foi mencionada na denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-ministro. Segundo a acusação, um terço de um jato Cessna foi adquirido por Camargo e pelo lobista Milton Pascowitch "em favor" de Dirceu.
No depoimento de Camargo, ele afirma que uma outra parcela do Cessna pertencia a um amigo de Dirceu chamado Naim Beydoun.
O relato do delator afirma que fez pagamento ao irmão do ex-ministro, Luiz Eduardo, e a uma empresa indicada por ele.
O depoimento foi prestado no último dia 31 e foi anexado ao processo em que Dirceu é réu.
CAMARGO CORRÊA
Também no depoimento, o delator relatou que se reuniu em sua casa com Dirceu e um representante da empreiteira Camargo Corrêa para discutir um contrato na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Ele afirmou que soube de maneira informal que "o assunto" entre a empresa e o ex-ministro acabou "resolvido" entre as duas partes.
No processo em que Dirceu virou réu, a única empreiteira que teve representantes denunciados foi a Engevix.
O advogado Roberto Podval, que defende o ex-ministro, disse vai contestar as acusações em defesa formal que apresentará à Justiça.
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