PM usa bombas contra grupos pró e anti-Lula em fórum de São Paulo
Grupos simpatizantes e críticos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegaram a atirar garrafas d'água e pedras uns nos outros nesta quarta-feira (17), em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, onde o petista daria depoimento. Houve confronto com a polícia, que lançou bombas de gás lacrimogêneo e golpeou alguns manifestantes com cassetetes.
O pivô dos confrontos foi o boneco inflável gigante que representa o ex-presidente Lula com uniforme de presidiário. Apelidado de "Pixuleko", o boneco virou ícone dos protestos antipetistas. Em várias ocasiões, membros dos grupos pró-Lula contornaram o cordão de isolamento formado por policiais militares com o objetivo de rasgar o Pixuleko gigante enquanto os manifestantes antiqua procuravam enchê-lo de ar. A Folha testemunhou mais de quatro investidas (assista ao vídeo).
Grupos pró e anti-PT protestam em fórum onde Lula seria ouvido
Centenas de pessoas da Frente Brasil Popular, ligada ao PT, estavam aglomerados na calçada à esquerda do fórum. "Fora, coxinha" era um dos gritos mais entoados. À direita do prédio, em número menos expressivo, estavam movimentos como o Nas Ruas e o Revoltados Online. Aos opositores, gritam: "Vai trabalhar, vagabundo". Pequenos tumultos se iniciaram por volta das 10h40 e se intensificaram ao longo da manhã. Os grupos só se dispersaram depois das 13h, com o boneco furado e desinflado. Manifestantes de esquerda comemoraram a vitória aos gritos de "não vai ter golpe".
"A gente não poder inflar um boneco porque eles consideram uma agressão e ficaram instigando o tempo todo no microfone para causar discórdia e raiva para que eles viessem em cima da gente. Isso denota que eles não têm o mínimo de respeito pela manifestação alheia."
Em um dos confrontos, o manifestante da CUT Michel Adriano Szurkalo foi detido pela PM e levado ao 23º DP por ter agredido um dos líderes anti-Lula, Marcello Reis, a socos. Já libertado, ele pretende registrar queixa, alegando que tratou-se de agressão mútua. Segundo Raimundo Bonfim, coordenador-geral da CMP (Central de Movimentos Populares) e membro da Frente Brasil Popular, quatro manifestantes pró-Lula ficaram feridos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, cinco pessoas ficaram feridas no protesto e foram socorridas.
Ao longo do dia, lideranças de esquerda defenderam, do alto de um caminhão de som, que um Pixuleko inflado seria uma "provocação muito grande" e que não seria possível conter os manifestantes. "O pessoal lá não iria aceitar que levantem Pixuleko", disse Bonfim.
Ele afirmou que havia um acordo firmado com a PM para boneco não fosse usado, informação negada pelos manifestantes antipetistas e pela polícia.
O major Eliseu Chaves de Oliveira, da PM, disse à Folha que chegou a alertar os movimentos anti-Lula do risco de confronto caso o Pixuleko fosse inflado. "Eles estão em número maior, é difícil controlar", explicou. "Ficam muito nervosos com esse negócio", acrescentou, ressalvando que tratava-se apenas de recomendação.
Com o cancelamento do depoimento do ex-presidente, deputados petistas que iriam participar do ato em sua defesa se reuniram com o ex-presidente na sede do Instituto Lula. Parte deles foi para o ato no fórum.
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Michel Adriano Szurkalo, manifestante da CUT detido nesta em confronto nesta quarta |
FERIDOS
Um dos feridos, o sociólogo Nelon Kanesin, da CUT, afirmou que ficou com ferimento na perna devido aos cassetetes da tropa de choque. "Fui me aproximar do boneco que estavam tentando inflar. A polícia estava protegendo, não sei por que, e foi para cima", contou. Ele disse que tinha a intenção de desinflar o Pixuleko.
Fotógrafos registraram ferimento de outro manifestante pró-Lula, que ficou com a cabeça ensanguentada e foi carregado por companheiros.
PEQUENOS CONFRONTOS
Ainda no período da manhã, Bonfim chegou a pedir a policiais que não deixassem o boneco ser inflado. Neste momento, os grupos começaram a se xingar e atirar garrafas uns nos outros. A polícia interveio para separar os manifestantes, que se espalharam e tomaram a rua. Uma força tática da PM saiu de dentro do fórum e se posicionou entre os dois grupos na tentativa de impedir uma escalada do confronto.
Antes, às 10h40, militantes da Frente Brasil Popular acenderam fogos de artifício e jogaram uma bomba perto de onde manifestantes anti-Lula estão situados.
Depois disso, os dois lados ameaçaram invadir o acesso ao fórum, que separava os manifestantes. Em seguida, uma manifestante da Central de Movimentos Populares foi socorrida por policiais. O motivo teria sido uma pedra lançada do lado dos movimentos antipetistas.
ATUAÇÃO DA PM
No período da tarde, a direção estadual do PT e a bancada de deputados estaduais do partido repudiou a postura da PM. Em nota, eles afirmam que duas pessoas foram feridas pelos policiais. Criticaram também a proteção dada ao boneco Pixuleko.
"Há tempos a sociedade paulista tem sido vítima da política truculenta da PM comandada pelo PSDB, que resiste em conviver com o direito democrático de manifestação", diz nota da sigla.
Bomfim também criticou a atuação policial. "Ficou comprovado que o pessoal da tropa de choque protegeu o lado de lá", disse.
A PM não quis estimar o número de manifestantes.
OFENSAS
Alguns dos manifestantes de esquerda começaram a debochar do guarda-chuva que a líder dos Nas Ruas, Carla Zambelli, usava para se proteger do sol.
Ela se recupera de uma cirurgia para retirada de tumor na cabeça e buscava cobrir a cicatriz. Ao dizer que usava o guarda-chuva por motivos de saúde, foi xingada de zika e acusada de não saber ler.
A reportagem também ouviu xingamentos como "biscate". Uma mulher gritou: "Mostra os peitos!".
MOVIMENTOS
A Frente Brasil Popular –que reúne mais de 60 entidades dos movimentos sindical e social, além dos partidos PT, PC do B e PDT– convocou seus militantes para chegar às 10h e manteve a convocação mesmo após a suspensão do depoimento de Lula.
Já o MBL (Movimento Brasil Livre), que defende o impeachment, cancelou o chamado que lançou a seus seguidores, o que pode explicar o baixo número de manifestantes antipetistas. Nesta terça (16), Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL e colunista da Folha, havia pedido demonstração da "legitimidade popular" dos movimentos contrários a Lula, Dilma e PT.
LIMINAR
Uma decisão liminar do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) suspendeu nesta terça (16) os depoimentos de Lula e de sua mulher, Marisa Letícia, ao Ministério Público de São Paulo.
Os dois haviam sido intimados a depor sobre a situação do tríplex no condomínio Solaris, em Guarujá (SP), e sobre suspeitas de irregularidades na transferência do condomínio da cooperativa Bancoop para a OAS.
O conselheiro Valter Shuenquener de Araújo, porém, acatou um requerimento do deputado petista Paulo Teixeira (SP), em que ele alega que o inquérito teria que ter entrado no sistema de distribuição do Ministério Público paulista. O deputado fala ainda em "flagrante perseguição política".
Teixeira questionou a atuação do promotor Cassio Conserino, afirmando que ele não era o promotor natural para conduzir a investigação. O promotor já afirmou à imprensa ver indícios para denunciar Lula.
"É fundamental o respeito à Constituição pelos agentes públicos", disse o deputado Teixeira à Folha.
Ele contou com a orientação de pessoas do entorno do ex-presidente para entrar com o pedido de liminar. A ideia inicial era que Lula prestasse o depoimento –isso mudou após alertas de aliados.
DISTRIBUIÇÃO
Segundo o deputado Teixeira, o caso do tríplex está sendo apurado atualmente na 5ª Vara Criminal do Foro Central Criminal de São Paulo, sendo que é a 1ª Promotoria de Justiça a responsável pelos casos dessa área. Conserino seria da 2ª Promotoria.
Para Teixeira, se não fosse direcionado para a 1ª Promotoria, o caso deveria ter tido, ao menos, livre distribuição.
Araújo afirma que a representação criminal foi feita "de forma nominalmente direcionada ao requerido [Conserino] e a dois outros membros do Ministério Público, sem que se tenha notícia de qualquer distribuição ou mesmo decisão ministerial no sentido de que o requerido seria efetivamente o promotor de Justiça com atribuição na matéria".
O conselheiro avaliou que é melhor paralisar o caso até mesmo para não colocar em risco as investigações.
"Não é recomendável a manutenção de ato a ser presidido pelo requerido [Conserino] designado para amanhã [quarta] sem que antes o plenário deste conselho possa apreciar as alegações de ofensa ao princípio do promotor natural no âmbito do Ministério Público do Estado de São Paulo. A manutenção do ato poderia, acaso se entenda, em momento futuro, pela falta de atribuição do referido membro e da necessidade de livre distribuição do feito, até mesmo ensejar uma indesejável nulidade no âmbito penal", disse o conselheiro em sua decisão.
O conselheiro alega ainda que as notícias que grupos favoráveis e contrários a Lula protestariam em frente ao Fórum da Barra Funda poderia "comprometer o regular funcionamento e a segurança" do local.
A decisão vale até que o plenário do CNMP avalie o caso.
JUSTIFICATIVA
Sobre o tríplex, Lula justifica que comprou uma cota da Bancoop que dava direito a uma unidade no condomínio, mas desistiu de comprar o imóvel. Há a suspeita de que o tríplex, que está em nome da OAS e foi reformado pela empreiteira, estaria reservado para a família do ex-presidente e seria uma forma de favorecê-lo.
A linha de defesa do ex-presidente sobre o triplex e o sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, ainda está sendo traçada por sua equipe de advogados, por isso, qualquer pronunciamento precipitado é considerado arriscado. Aliados e envolvidos na defesa do petista estão tomando o máximo de cautela em relação a manifestações públicas sobre as suspeitas.
Colaborou BELA MEGALE, de São Paulo
Livraria da Folha
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