Esquema envolvendo avião pode ter irrigado chapa Campos-Marina, diz PF
Danilo Verpa/Folhapress | ||
Eduardo Campos (à dir.) e sua então candidata a vice Marina Silva durante encontro em SP, em 2014 |
Um suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a compra do avião que caiu matando o ex-candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB) em agosto de 2014 pode ter servido para irrigar a campanha presidencial da chapa de Campos e Marina Silva em 2014, além da eleição para governador dele em 2010, de acordo com a Polícia Federal.
Quatro pessoas foram presas na manhã desta terça-feira (21) na operação Turbulência, deflagrada pela PF para investigar o suposto esquema em Pernambuco e Goiás suspeito de ter movimentado cerca de R$ 600 milhões desde 2010.
Entre os detidos estão os empresários João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite e Apolo Santana Vieira. Eles são donos do Cessna Citation PR-AFA, aeronave envolvida no acidente que matou o ex-governador pernambucano. Foi a partir do avião que a PF descobriu operações suspeitas na conta de empresas envolvidas na sua aquisição.
Segundo a Polícia Federal, o recursos ilícitos que podem ter alimentado as campanhas de 2010 e 2014 de Campos foram repassados via Fernando Bezerra Coelho, ex-ministro da Integração Nacional cuja campanha ao Senado também é suspeita de ter recebido recurso ilegal.
"Indicativo que temos, apesar de não ser o foco da nossa investigação, é que Fernando Bezerra Coelho tenha sido a pessoa encarregada de colher os valores do percentual devido para as campanhas do ex-governador Eduardo Campos, em 2010 e 2014", afirmou Andréa Albuquerque, que comandou a operação.
Segundo a delegada, Bezerra Coelho recebia o recurso ilícito da empresa Câmara & Vasconcelos Locação, envolvida na compra da aeronave Cessna Citation PR-AFA e já citada em delação premiada pelo doleiro Alberto Yousseff, recebeu R$ 18,8 milhões da empreiteira OAS por suposta locação e terraplanagem nas obras de transposição do Rio São Francisco.
Este montante, segundo os investigadores, pode ter servido à aquisição da aeronave e também para outras despesas e dívidas de campanha. A operação Turbulência compartilhou informações com a investigação da Lava Jato.
"Vimos que a movimentação financeira não foi só para a compra do avião. Eles [empresas de fachadas e laranjas, segundo as investigações] intercambiavam muito entre si. Desde 2010 as empresas tinham transações volumosas, que se intensificaram em 2014. Por coincidência ou não, as transações caíram após o acidente", detalhou a delegada Andréa Albuquerque.
DÍVIDAS DE CAMPANHA
Os dados sobre o pagamento de R$ 18,8 milhões da OAS à Câmara & Vasconcelos estão em um dos quatro inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal tendo Fernando Bezerra Coelho como investigado. O esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que teria financiado a compra do avião, segundo a PF, se utilizou no total de 18 contas bancárias, entre pessoas físicas e jurídicas.
Além das campanhas presidenciais e para governador de Pernambuco, a polícia suspeita que os recursos ilícitos foram injetados também na campanha ao Senado do ex-ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional).
PRISÕES
Embora não apareça no quadro societário da empresa, Paulo Cesar de Barros Morato é considerado pela PF como proprietário dela. Ele teve mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça e não havia sido localizado até o final desta manhã.
Dois empresários, Melo Filho e Bezerra Leite, foram presos ainda de madrugada, quando desembarcavam em São Paulo vindos do Recife. O último transportava US$ 10 mil em espécie e estava com viagem marcada para Miami, nos EUA. Os outros dois, Apolo Santana Vieira e Arthur Roberto Lapa Rosal, foram detidos na capital pernambucana.
Ao todo, foram cumpridos na operação Turbulência 35 mandados de busca e apreensão e 16 de condução coercitiva, além do sequestro de embarcações, dois helicópteros e um avião.
A reportagem entrou em contato com a assessoria do PSB em Pernambuco e nacional. O partido informou que ainda irá se pronunciar oficialmente por meio de nota.
A reportagem também entrou em contato com a assessoria de Marina Silva, que só se pronunciará ao longo da tarde.
MORTE DE CAMPOS
O ex-governador de Pernambuco morreu em Santos (SP), na manhã de 13 de agosto de 2014, após o avião em que viajava cair sobre um bairro residencial. O candidato à Presidência da República pelo PSB tinha 49 anos, deixando mulher e cinco filhos.
O mais velho dos homens é chefe de gabinete do atual governador Paulo Câmara e deve disputar um mandato em 2018.
Segundo o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), a falta de conhecimento da aeronave e da área de pouso, além de erros de julgamento sob estresse fizeram com que os pilotos perdessem o controle do avião após arremeterem pouso.
OUTRO LADO
Em nota, Marina afirmou que "a logística de deslocamento de Eduardo Campos e de sua comitiva neste período [da campanha eleitoral] era de responsabilidade exclusiva do PSB".
"Neste mesmo período, os mais de 120 deslocamentos que fiz para cumprir minha agenda de pré-campanha foram em voos comerciais", disse.
"Ninguém está acima da lei e mantenho minha plena confiança no trabalho da Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público", completa.
O Diretório Nacional do PSB divulgou nota em que diz "ter plena confiança na conduta do nosso querido e saudoso Eduardo Campos".
Em nota distribuída por sua assessoria, Fernando Bezerra Coelho repudiou o que chamou de "incorreta vinculação do nome dele" à operação. Afirmou que não é "sequer mencionado nos autos desta investigação", que não foi coordenador das campanhas de Eduardo Campos e que não exerceu nenhuma função financeira nas campanhas dele.
"Quanto à investigação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) –ainda não concluída–, Fernando Bezerra Coelho ratifica que sempre esteve à disposição para colaborar com os ritos processuais e fornecer todas as informações que lhe foram e, porventura, venham a ser demandadas. O senador reitera, ainda, que mantém a confiança no trabalho das autoridades que conduzem o processo investigatório no STF, acreditando no pleno esclarecimento dos fatos", diz a nota.
A OAS informou que não se manifestará a respeito.
A família de Eduardo Campos informou que não vai se pronunciar.
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