Cidade de 50 mil habitantes em SP terá só um candidato a prefeito
Pierre Duarte/Folhapress | ||
Flávio Prandi Franco, o Flá (ao centro), conversa com eleitores em frente à prefeitura de Jales |
O corretor Antonio Alves, de Jales (a 585 km de São Paulo), não tem dúvida. Mesmo a um mês e meio das eleições, já escolheu seu candidato a prefeito. Pudera: como não quer anular ou votar em branco, não tem opção.
Após sucessivos problemas administrativos desde o início dos anos 2000 e discussões entre os partidos e entidades, a cidade chegou a um acordo e resolveu lançar só um candidato a prefeito. Outro postulante chegou a fazer convenção, mas diz que não registrará a candidatura –o prazo vence nesta segunda (15).
Após tentar ser prefeito duas vezes, Flávio Prandi Franco, o Flá (DEM), disputará sozinho a eleição. Além de formar uma coligação com 15 siglas, como PSDB, PSB e PV, terá o apoio informal do PT –que não se une formalmente ao DEM e a tucanos.
A candidatura única é resultado de uma série de problemas políticos enfrentados pela cidade nos últimos anos. Na década passada, dois prefeitos morreram no exercício do cargo. A última eleita, Eunice Mistilides Silva (PTB), foi cassada no ano passado, acusada de irregularidades na contratação da coleta de lixo.
"O próprio povo começou a falar nisso [candidatura única], a pregar o fim da guerra entre os políticos", diz Flá.
O vice da chapa eleita em 2012, Pedro Callado (PSDB), assumiu e chegou a anunciar uma pré-candidatura. Ele, porém, desistiu para apoiar Flá após reuniões com o Fórum da Cidadania.
O grupo, formado por entidades como OAB, associação comercial, igreja, lojas maçônicas e sindicatos, criou uma campanha contra a corrupção e pela ética e transparência na política.
Coordenador do fórum, Carlos Alberto de Britto Neto diz que a cassação da ex-prefeita partiu de uma denúncia feita no grupo e que a proposta de candidato único surgiu numa reunião em julho.
"Dissemos que não iríamos interferir nas discussões de nomes, mas ajudaríamos a explicar para a sociedade que isso seria importante", conta. Um segundo encontro, a pedido dos partidos, foi decisivo para definir a candidatura.
"A situação financeira está muito difícil –operamos com deficit mensal de R$ 2 milhões. Se não houvesse a união, a situação poderia virar uma bola de neve, pois a receita só cai e os gastos só crescem", afirma Pedro Callado.
Em 2012, Flá, que disputava o cargo pela segunda vez e tinha sete siglas na coligação, obteve 46,18% dos votos válidos, contra 48,16% da eleita, índice que o credenciou para ser o escolhido agora.
Nas ruas, Flá já é tratado como prefeito –e cobrado por isso. "O maior problema é o asfalto. Nem bairro novo escapa", diz o corretor Alves. Para o autônomo Hélio Fernandes, o cenário da eleição permitirá à cidade crescer. "Os problemas todos fizeram Jales parar no tempo. Quem sabe agora melhore."
Flá fará campanha mesmo sem ter adversários; ele diz que precisa ir às ruas com os 96 postulantes a vereador da coligação –são dez vagas. O teto de gasto na campanha à prefeitura em Jales é de R$ 176 mil; para vereadores, de R$ 20 mil.
'ESTOU FORA'
Apesar de o candidato do DEM ser tratado como único, outro político levou uma ata de convenção ao cartório eleitoral da cidade.
Mauro Bernardo (PR), presidente do diretório local e primo de Flá, publicou edital num jornal de São José do Rio Preto e fez convenção, mas não registrou a candidatura. Segundo ele disse à Folha e a membros do fórum, não o fará até esta segunda-feira (15), quando termina o prazo.
"Publiquei em Rio Preto porque estava lá, mas não vou ser candidato. A mãe dele [Flá] é minha prima em primeiro grau, vou preservar a família", afirma, completando que não há chapa de vereadores inscritos para a disputa pela legenda.
Na segunda-feira passada (8), o Fórum da Cidadania fez um ato para apresentar propostas aos candidatos. Flá e cerca de 50 candidatos a vereador foram –Bernardo, não.
Entre as medidas sugeridas estão um serviço de acesso a dados públicos, aprimoramento de licitações, redução de cargos comissionados, criação de corregedoria com mandato não coincidente com o do prefeito e impedimento ao nepotismo.
Em 2012, 18 cidades paulistas tiveram um só candidato a prefeito, mas nenhuma do porte de Jales. Em 14 delas, o total de votos válidos não chegou a 4.000. Jales, de 49 mil habitantes, teve 27.311 votos válidos em 2012.
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