Wesley Batista, sem tornozeleira, vai assistir ao nascimento do segundo neto

Solto pelo STJ, empresário não será monitorado por falta do equipamento

Raquel Landim Wálter Nunes
São Paulo

O empresário Wesley Batista saiu da cadeia a tempo de assistir o nascimento do segundo neto, que pode acontecer a qualquer momento. O sócio da JBS deveria ter calçado uma tornozeleira eletrônica antes de ir embora, mas saiu sem monitoramento algum.

A tornozeleira era uma exigência dos ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que decidiram pela sua soltura, mas não havia equipamento disponível em São Paulo. O impasse em torno do assunto adiou sua saída em mais de seis horas.

O empresário Wesley Batista dentro de um carro, vestindo camisa branca, chega para depor na Justiça Federal, em São Paulo.
O empresário Wesley Batista (camisa branca) chega para depor na Justiça Federal, em São Paulo. - 21.fev.2018 - Marcelo Justo /Folhapress

Ele tem três filhos e um neto do seu primogênito, Wesley Junior. O empresário temia não participar desse momento da vida da filha, que já havia adiado o casamento religioso por conta da delação premiada do pai e do tio Joesley. Depois do escândalo, ela optou por casar só no civil.

Preso desde setembro na carceragem da Polícia Federal em São Paulo, o ex-presidente do frigorífico, cuja delação abalou o governo de Michel Temer, foi solto às 2h51 desta quarta-feira (21). Estava aliviado, mas os dias na cadeia deixaram marcas. Emagreceu 12 quilos.

Wesley foi solto após decisão da sexta turma do STJ, que julgou procedente por 3 votos a 2 o pedido de habeas corpus da defesa dos irmãos Batista.

Joesley e Wesley são acusados de insider trading, por supostamente terem lucrado com as variações nos mercados de câmbio e de ações causadas pela divulgação da delação premiada da JBS.

Os desembargadores entenderam que a prisão preventiva podia ser substituída por outras cautelares, como não se ausentar do país, não participar de operações no mercado de capitais e o uso de tornozeleira eletrônica.

Os advogados do empresário chegaram na PF às 20h, pouco tempo após a decisão do STJ. Logo descobriram que não havia tornozeleira disponível. A autoridade do plantão se negou a liberar Wesley sem o aparelho ou sem autorização judicial expressa. Os advogados tentaram, sem sucesso, contato com a área responsável por tornozeleiras, mas não conseguiram.

Passava de meia-noite quando obtiveram a informação de que não havia o equipamento no Estado.

A pedido da defesa, a juíza de primeira instância responsável pelo caso voltou ao fórum às 1h30 da madrugada e acolheu o argumento de que não adiantava aguardar até o dia seguinte, porque a situação não seria resolvida.

Em audiência realizada nesta quarta-feira (21) à tarde, a Justiça determinou que o empresário se apresente semanalmente às autoridades até que a Justiça providencie a tornozeleira. O Ministério Público Federal pediu que Wesley deposite uma fiança de R$ 50 milhões, mas o juiz federal Diego Paes Moreira ainda não decidiu se vai aceitar a solicitação.

MADRUGADA

Por conta do imbróglio, Wesley já estava dormindo quando foi chamado pelo plantão policial. Abraçou os três advogados que o aguardavam e seguiu direto para casa.

Seus familiares –pai, mãe, irmãos, cunhados, filhos e sobrinhos– estavam reunidos na mansão do empresário no Jardim América desde o início da noite. Como demorou muito, alguns acabaram dormindo e perderam sua chegada.

Wesley Filho e o sobrinho Aguinaldo Gomes Ramos Filho acompanharam por telefone todos os episódios da confusão da tornozeleira. Quando foram informados que Wesley seria liberado, houve festa na casa do clã Batista.

Por determinação da Justiça, Wesley deve ficar afastado dos negócios. Ele não pretende sequer ir a empresa para evitar dúvidas. Wesley Filho, no entanto, toca o dia a dia do negócio ao lado do executivo Gilberto Tomazoni.

Joesley soube da libertação do irmão quando ouviu Wesley ser chamado na madrugada. Os dois estavam em celas vizinhas. Já havia acabado o período de visitas para os advogados. Às pessoas que o visitaram no dia seguinte, Joesley disse que estava aliviado e esperançoso. A decisão do STJ beneficiou os dois irmãos, mas o caçula continuará preso, porque há contra ele outra determinação de prisão, assinada pelo ministro do STF Edson Fachin.

Joesley foi acusado de omitir informações em seu acordo de delação premiada, como, por exemplo, sua relação com o ex-procurador da República, Marcello Miller, enquanto ele ainda fazia parte do Ministério Público.

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