Não sou operador do PSDB, sou gestor público, diz Paulo Preto

Ex-diretor da Dersa preso negou à Justiça irregularidades

Gabriela Sá Pessoa
São Paulo

Diante da juíza que conduziu sua audiência de custódia nesta sexta-feira (6), Paulo Vieira de Souza elencou seus predicados. Engenheiro civil formado e professor de matemática. Ex-diretor de engenharia da Dersa, empresa responsável pelas obras do estado de São Paulo. “Engenheiro do ano”.

“Fui engraxate de rua e cheguei ao Planalto”, disse Souza, conhecido como Paulo Preto, relembrando os anos no Palácio do Alvorada, quando trabalhou como assessor da Presidência no segundo governo FHC (1999-2002).

Um rótulo, porém, ele pareceu rejeitar: o de “o grande cara de São Paulo”, que irá revelar esquemas nos governos tucanos.

“Tenho um primo desembargador, vou responder se eu for culpado. Tudo o que falam que eu falei, que eu sou o grande cara de São Paulo, que eu sou o operador [do PSDB]... Eu não sou nem do partido. Sou gestor público”, afirmou.

Souza não teve queixas sobre o tratamento dos agentes federais e penitenciários. Preso no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros desde a manhã, ele compareceu ao fórum federal com os cabelos raspados, o uniforme da prisão e de sandálias Havaianas brancas —um modelo em que se lia “paz” em diferentes idiomas.

A Polícia Federal bateu à porta de Souza às 6h de sexta, enquanto ele dormia. Duas semanas depois de o MPF (Ministério Público Federal) o denunciar por uma suposta participação no esquema que desviou R$ 7,7 milhões do programa de realojamento de famílias que viviam na região onde a Dersa construiu o trecho sul do Rodoanel.

A denúncia não pedia medidas cautelares contra os investigados. Porém agora, segundo a Procuradoria, há evidências de supostas ameaças que Souza teria feito a uma testemunha das investigações, Mércia Ferreira Gomes, obstruindo, assim, as investigações.

Ela prestou serviços à Dersa no realojamento das famílias e também é ré no processo, mas tem colaborado com as autoridades —a quem relatou ter sido coagida com oferta de dinheiro para se manter calada, além de ameaças físicas.

Paulo Vieira de Souza diz desconhecer a testemunha e afirma que jamais teve contato com ela.

Os agentes da PF também apreenderam um iPad, de uso pessoal do ex-diretor, e um pendrive com informações da Dersa que, segundo Souza, chegou a suas mãos na véspera. O dispositivo, contou, tinha as inscrições das famílias que deixaram suas casas na região do Real Parque, na capital paulista.

O ex-diretor da estatal relatou que pediu as informações do pendrive na semana passada a sua ex-secretária na empresa, que atualmente responde ao sucessor na direção de engenharia, Pedro da Silva.

Presentes na oitiva, os procuradores não gostaram dessa informação. Anamara Osório, do MPF, estranhou a rapidez com que Souza —fora da Dersa desde 2010— conseguiu obter dados da empresa.

Segundo Osório, quando a Procuradoria solicita informações à companhia, há um prazo de dez dias para respostas. O acesso do réu ao pendrive, disse, revela o poder que ele ainda tem na Dersa, suficiente, segundo a procuradora, para justificar sua prisão preventiva.

No fim, a juíza Maria Isabel do Prado manteve a prisão preventiva do engenheiro, até que possa ler todos os depoimentos e pedidos da defesa encaminhados durante a audiência. Os advogados de Souza querem converter a prisão preventiva em medidas alternativas.

Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto,foi preso pela Polícia Federal - Reprodução/TV Globo

O MECANISMO

Souza parecia desenvolto diante dos oficiais da Justiça. Chegou a comparar sua situação à série “O Mecanismo”, da Netflix, que se inspirou nos acontecimentos da Operação Lava Jato e Curitiba.

“É o filme que taí, como é que chama? ‘O Sistema’”, comentou, antes de ser corrigido por sua defesa.

“Político recebeu dinheiro de [empresas para fazer] campanha? Todos. Por dentro, eu sei. Por fora, tem que perguntar para eles”, disse o engenheiro.

Ainda pela manhã, a procuradora Thaméa Danelon, coordenadora da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, disse que não há negociações de um acordo de delação premiada com o réu.

Por ora, uma colaboração com os investigadores também parece distante de Souza.

“Não vai ter [prova de] corrupção [em São Paulo]. Eu sinto muito mas não vai ter. Não estou me santificando, mas não terá”, afirmou.

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