Yunes deixa cargo em clube de Ilhabela e se diz vítima de calúnia 

Ex-assessor e amigo do presidente Michel Temer virou réu sob acusação de organização criminosa

Reginaldo Pupo
Ilhabela (SP)

O ex-assessor e amigo do presidente Michel Temer José Yunes afirmou que é vítima de calúnia, difamação e de “prejulgamentos midiáticos”.

 Yunes, o coronel João Baptista de Lima Filho e integrantes do MDB foram denunciados ao juiz da 12ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, por organização criminosa.

A afirmação ocorreu após o advogado anunciar na tarde desta sexta-feira (13) sua renúncia ao cargo de comodoro (espécie de presidente) do Yach Club de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. Ele estava em sua segunda gestão, que terminaria em abril do ano que vem. Novas eleições foram convocadas para o próximo mês.

O advogado José Yunes, à esq., ao lado de advogado, deixa a sede da Polícia Federal em São Paulo
O advogado José Yunes, à esq., ao lado de advogado, deixa a sede da Polícia Federal em São Paulo - Zanone Fraissat - 1ª.abr.18/Folhapress

Yunes foi preso temporariamente no último dia 29 na Operação Skala. Dois dias depois, deixou a prisão após alvará de soltura expedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

 

Após o advogado virar réu, membros do conselho e da diretoria iniciaram uma debandada, como o vice-comodoro, José Luiz Gandini, presidente da Kia Motors do Brasil, e outros dois diretores, apesar de demonstrarem apoio a Yunes.

“A instituição que tanto amo, o nosso Yacht Club de Ilhabela, não pode, de forma alguma, ser afetada por questões particulares de um dos seus membros condutores”, afirmou Yunes em sua carta-renúncia divulgada nesta tarde.

O ex-assessor de Temer aproveitou o documento para dizer aos associados que é inocente das acusações. “Atravesso o momento mais tormentoso de minha vida. A lancinante dor que vem me corroendo incessantemente, nesses dias espetaculosos em que vive o país, ocorre em função da mais ignominiosa difamação que se tenta perpetrar contra minha honra: a mentira de me atribuírem práticas ilícitas e de me considerarem partícipe de operações fantasiosas e preparadas.”

De acordo com o presidente do conselho do Yacht Club de Ilhabela, Carlos Eduardo de Macedo Costa, inicialmente Yunes se mostrou contrário à ideia de deixar o cargo, por acreditar que a atitude poderia ser interpretada como admissão de culpa.

“Depois ele avaliou bem e decidiu renunciar para deixar os demais membros do clube à vontade”, disse.

REPUTAÇÃO EXTERMINADA

Yunes ainda afirmou que as denúncias “exterminam” sua reputação e que sofre “condenação de morte civil sem direito de defesa”. Disse também nunca ter praticado atos desonestos.

“Jamais realizei operações ilegais de qualquer espécie. Nunca vi e ouvi tanta desfaçatez, calúnias, difamação, mentiras e perniciosas ilações, sempre sem qualquer elemento de prova minimamente aceitável”, reforçou ele em sua carta-renúncia.

José Yunes também afirmou que acredita na Justiça brasileira e que, ao final do processo, em que poderá exercer seu direito de defesa, sua inocência será reconhecida.

DENÚNCIA

A denúncia, referente ao chamado “quadrilhão do MDB”, foi originalmente apresentada ao STF (Supremo Tribunal Federal) em setembro do ano passado pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer e alguns de seus principais aliados, como os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha (RJ) e Henrique Eduardo Alves (RN), além do ex-ministro Geddel Vieira Lima (BA) e do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PR), flagrado pela Polícia Federal correndo com uma mala de dinheiro da JBS.

O procurador apontou a existência de uma organização que desviava recursos de vários órgãos públicos, entre os quais a Caixa Econômica Federal e Furnas, o Ministério da Integração Nacional e a Câmara dos Deputados. Por meio do esquema, segundo ele, os integrantes do partido teriam recebido ao menos R$ 587 milhões em propinas.

Os acusados negam envolvimento em ilícitos. 

Depois que a Câmara dos Deputados barrou o prosseguimento da ação contra Temer, o caso foi remetido à Justiça Federal para que os envolvidos sem prerrogativa de foro sejam processados. 

Em 21 de março, a Procuradoria da República no DF ratificou a denúncia original e fez um aditamento, acrescentando cinco novos acusados ao caso, entre eles Yunes e Lima. Também foram denunciados o corretor Lúcio Funaro, que delatou esquemas de corrupção do MDB, Altair Alves Pinto e Sidney Szabo, apontados como testas de ferro de Cunha.

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