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Eleições 2018

Sem chances visíveis, Meirelles cumpre tabela para si e para o MDB

Candidatura é útil ao partido e para os estertores do governo Temer, que já acabou na prática

Igor Gielow
São Paulo

Que Henrique Meirelles é insistente, isso é inegável. Ao longo de dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente do Banco Central, ele sempre acalentou a ideia de ser candidato a presidente, por mais que isso fosse uma impossibilidade no esquema das coisas.

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, à esq., e o presidente Michel Temer no encontro do MDB
O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, à esq., e o presidente Michel Temer no encontro do MDB - Pedro Ladeira/Folhapress

Chegou a ser cotado para ser vice de Dilma Rousseff (PT), e um exercício de futurologia reversa insinua possibilidades curiosas para tal dupla: teria ele patrocinado o impeachment ou, de alguma forma, ajudado a evitar o desastre econômico que acabou por solapar o apoio à petista no Congresso? Leite derramado.

Agora, aos 72 anos, busca enfim seu sonho. Como dizem interlocutores seus, o que mesmo o ex-ministro da Fazenda tem a perder? É imensamente rico, pode bancar sua campanha, já teve papéis relevantes na vida privada e na gestão pública do país. Ser vice de alguém, como foi cogitado, para buscar a Presidência com 80 anos?

Mas é só um sonho. Em sua concepção original, a economia recuperada dos escombros da gestão petista estaria crescendo decentemente a ponto de gerar frutos práticos, em outras palavras emprego, no período da campanha eleitoral.

O "feel good factor" de que Meirelles tanto falava e que poderia agregar apoio do mercado financeiro e da centro-direita, hoje estupefatos com a confusão na praça e procurando um nome para chamar de seu na campanha.

Ocorre que a recuperação engasgou, os empregos não apareceram e há novos problemas se acumulando, como a inexorável alta dos combustíveis e a disparada do dólar que apavora a classe média. O próprio fato de não estar mais no leme da economia depõe contra Meirelles a essa altura.

Fora isso, o óbvio. O governo Michel Temer (MDB) acabou há exato um ano, quando estourou a crise da JBS. O presidente se tornou o mais impopular da história, a ponto de 86% dos ouvidos pelo Datafolha na pesquisa mais recente dizerem que nunca votariam num candidato apoiado por ele —que disse que ficaria "orgulhosíssimo" de ver Meirelles na sua cadeira.

Assim, sua candidatura, se for confirmada lá na frente, cumprirá tabela. Primeiro para si, uma questão pessoal e que conta com algo de fé na nebulosidade do cenário à frente. Para alguns esperançosos, sua inclusão no debate pode trazer algum grau de racionalidade, em especial sobre economia.

Segundo, e mais importante, fará um favor ao MDB. O partido agradece ter um nome na urna para poder se expor no horário eleitoral e, principalmente, que seja o do autofinanciado Meirelles. Com isso, uma boa fatia do Fundo Partidário do MDB ficará liberado para as outras campanhas da sigla.

Para Temer, que insistia numa candidatura inexistente para se manter relevante em negociações políticas, a esperança é de que Meirelles mantenha essa condição. Seja para negociar apoios de segundo turno, seja para debater o futuro do presidente encalacrado com a Justiça ao fim de seu mandato.

Com a lembrança de momentos sutis da política como a convenção de 1998 na qual o PMDB negou no grito legenda para Itamar Franco enfrentar Fernando Henrique Cardoso, é bom ter um pouco de cautela para ver se essa conjunção de interesses irá sobreviver até o início da campanha.

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