Descrição de chapéu Eleições 2018

Eleição para governo de São Paulo racha elite empresarial

Com Doria, Skaf e Chequer, corrida divide simpatia do empresariado

Skaf e Doria se cumprimentam antes do debate
Paulo Skaff e João Doria, antes do debate dos candidatos ao governo do estado, no estúdio da Band, em São Paulo - Eduardo Anizelli/ Folhapress
Joana Cunha
São Paulo

Com três candidatos ligados ao empresariado, a disputa pelo governo de São Paulo rachou o topo da pirâmide social no estado mais rico do país. 

Uma parte apoia o ex-prefeito João Doria (PSDB), que tem 25% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Outra fatia prefere o presidente licenciado da Fiesp, Paulo Skaf (MDB), com 20%. Mas o candidato de 1% Rogério Chequer (Novo) atrai simpatia no meio. 

Doria e Skaf pertencem a um mesmo estrato social: os bens apresentados pelo tucano à Justiça Eleitoral somam R$ 189,9 milhões. O líder da Fiesp declarou R$ 23,8 milhões. 

Apesar da discrepância nas fortunas, eles frequentam ambientes semelhantes, têm amigos em comum e fizeram carreira recebendo os mesmos empresários e executivos em suas instituições para tratar de demandas corporativas.

Doria ganhou influência ao fundar o Lide, produtora de eventos que pede contribuições a empresários para organizar palestras com políticos, nutrindo relações entre o setor público e o privado. Skaf presidiu a Fiesp por 15 anos. 

Também rico, Chequer tem R$ 9 milhões. Notabilizado nos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff, ele tem boas relações na alta renda. Jayme Garfinkel, presidente do conselho da Porto Seguro, o convidou para conhecer um presídio de gestão privada em Minas Gerais, segundo membros da campanha.

Mas quando a ajuda é dinheiro, foi na candidatura de Doria que Garfinkel injetou R$ 250 mil. 

São votos que não ganham eleição, mas traduzem influência. Skaf pode ter vantagem na capilaridade da indústria, que reúne 89 mil estabelecimentos no estado, dos quais 95% são de menor porte, ou seja, se beneficia caso consiga converter essa rede em votos.

Na Fiesp, Skaf comprou brigas caras ao setor, contra a extinção da TJLP, a taxa de juros do BNDES subsidiada pelo governo, e fez campanhas de apelo popular, como o pato e o sapo gigantes para reclamar de imposto e juro. Na elite industrial, porém, ele não conta com o apoio de referências dentro da própria Fiesp.

Rompeu com Benjamin Steinbruch, principal acionista da CSN e vice-presidente da federação até poucos meses atrás. A amizade não resistiu quando Skaf, ao licenciar-se da Fiesp para disputar o governo, optou por outro nome para suceder-lhe na chefia da Fiesp. A gota d'água foi a filiação de Steinbruch ao PP. 

Quem fica com o apoio de Steinbruch é Doria, segundo a assessoria do ex-prefeito. 

O empresário é presidente do conselho do Jockey Club, ícone do glamour quatrocentão paulistano. Endividado, o empreendimento vendeu imóveis por preço abaixo da avaliação da prefeitura. Um dos compradores foi a Fundação CSN, como mostrou reportagem da Folha neste mês. 

Outro peso pesado que não se posiciona com Skaf é Horácio Piva, seu antecessor na Fiesp e conselheiro da Klabin, com quem troca provocações. Sem citar nomes, Piva escreveu artigo na Folha em 2017 lembrando que a direção de algumas federações do tipo é ocupada por pessoas que não são "industriais de verdade". 

Em 2004, quando assumiu a Fiesp, Skaf recebeu de opositores o apelido de "industrial sem indústria" porque a empresa têxtil de sua família era endividada e sem atividade. 

Doria tem apoio de amigos e habitués do Lide, como Rubens Ometto, presidente do conselho da Cosan, e Flavio Rocha (Riachuelo), segundo assessores do tucano. Mas sofre críticas de desafetos como Walter Torre (WTorre), que durante a gestão do ex-prefeito perdeu a disputa pela bilionária licitação da iluminação pública, num resultado suspeito de fraude.

Nos bastidores, a percepção é que Doria está mais amparado pela elite empresarial, apesar de ter forçado a mão ao pedir doações para ajudar a implementar ações da prefeitura no início de sua gestão. 

Numa corrida presidencial tão embolada, a estadual ficou em segundo plano nas preocupações empresariais.

Com candidatos competitivos que partilham da bandeira liberal alinhada a demandas do setor privado, eles avaliam que a disputa paulista está sob controle. Em caso de vitória da esquerda no Planalto, Doria é considerado melhor saída por empresários porque é visto como resistência mais firme, apesar do esforço feito por Skaf e Chequer para colar suas imagens à derrubada do PT no impeachment.

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