Descrição de chapéu Eleições 2018

Menções negativas a aliados de Skaf são excluídas de documentos do Sebrae

Ressalvas a atual presidente do órgão e a ex-chefe de gabinete da Fiesp são suprimidas de relatórios

José Marques
São Paulo

Documentos que alertavam o Sebrae-SP sobre possíveis irregularidades em contratações de aliados de Paulo Skaf (MDB) foram modificados e tiveram os trechos que apontavam os problemas suprimidos.

Os relatórios, de uso interno do Sebrae, foram elaborados pela consultoria Deloitte, contratada para auxiliar a estruturação de um programa de compliance (boas práticas corporativas) na entidade, e obtidos pela Folha.

Um dos tópicos excluídos aponta suspeita de nepotismo relacionada ao sucessor de Skaf na presidência do conselho deliberativo da entidade, Tirso de Salles Meirelles.

Meirelles foi alçado à posição pelo próprio Skaf e é um colaborador próximo do candidato ao governo. 
Essa advertência foi levada ao Ministério Público de São Paulo em 2016 e resultou em um inquérito civil, que tramita sob sigilo —à época, Tirso foi mantido no cargo.

Trecho eliminado de outro documento se refere ao ex-chefe de gabinete da presidência da Fiesp (federação das indústrias do estado) e braço direito de Skaf, Rossildo Faria.

Presidente da Fiesp (federação de indústrias do estado), Skaf virou chefe do conselho do Sebrae-SP em 2015, acumulando o cargo junto com o comando de outros braços do chamado "Sistema S" no estado, o Sesi e o Senai.

Em junho, ele se licenciou das entidades para disputar o governo de São Paulo.

O Sistema S sobrevive de contribuições compulsórias sobre folhas de pagamento de empresas —das micro e pequenas empresas no caso do Sebrae.

Tradicionalmente, a presidência do conselho do Sebrae-SP se reveza entre titulares dos setores de indústria, comércio, serviços e agricultura.

Tirso Meirelles foi secretário do conselho executivo (o colegiado de direção superior) até o ano passado. 
Em 2016, ocupava o cargo de secretário enquanto o seu pai, Fábio Meirelles, que é presidente da Faesp (Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), era conselheiro titular. 

O parentesco não permitia que Tirso estivesse no cargo, segundo um dos relatórios da Deloitte. O documento aponta que resolução interna veta o posto "àqueles com grau de parentesco, ainda que por finalidade em linha direta ou colateral, até o terceiro grau, em relação ao superintendente e demais diretores".

Porém, em uma versão do mesmo relatório divulgado posteriormente, o questionamento não existe mais.

Em maio deste ano, Skaf articulou para pôr Tirso antecipadamente na presidência como representante da Faesp. A mudança foi um agrado aos ruralistas.

Em julho, já com Skaf licenciado, outra situação apontada pela Deloitte desapareceu em relatório posterior. A empresa relatou que a nomeação do chefe de gabinete da presidência da Fiesp Rossildo Faria, como gerente de unidade do Sebrae, atropelou as normas da entidade.

A consultoria afirmava que ele não tem a escolaridade mínima exigida para funcionários que ocupam o cargo.

Para cargos de confiança como o de gerente de unidade, diz o relatório, é necessário que o profissional tenha ensino superior completo comprovado por diploma reconhecido pelo Ministério da Educação.

 "Identificamos que o profissional não possui diploma de ensino superior conforme o previsto na MP 25 - Sistema de Gestão de Pessoas (...), a qual exige nível de escolaridade ensino de superior completo reconhecido pelo MEC e experiência anterior comprovada", informou.

Mas em uma versão seguinte do texto da auditoria, de agosto, Rossildo sequer é citado.

Sebrae-SP diz que não constam ressalvas aos dois casos

Procurado, Paulo Skaf não se manifestou. A divisão paulista do Sebrae informou em nota que a Deloitte foi contratada pelo Sebrae nacional e que, nos relatórios transmitidos pelo conselho deliberativo nacional às unidades federativas do sistema, "até o momento não constam quaisquer ressalvas relativas aos dois casos apresentados".

"A indicação do sr. Tirso de Salles Meirelles como assessor da presidência do conselho deliberativo foi realizada em assembleia do Conselho Deliberativo e ratificada pelo mesmo em 2011, na gestão do sr. Alencar Burti", diz a nota.

Sobre Rossildo Faria, informa que ele ocupa a secretaria executiva do conselho deliberativo, um cargo sem vínculo com a Fiesp, e que sua indicação foi apresentada e ratificada pelos conselheiros.

"Seu processo de admissão [foi encaminhado] à diretoria executiva, instância responsável pelos atos administrativos da entidade. O processo de admissão foi formalizado normalmente pela Unidade de Gestão de Pessoas do Sebrae-SP em julho de 2017", afirma. A nota do Sebrae engloba os posicionamentos de Tirso e Rossildo. A Deloitte informou que não comenta sobre seus clientes e serviços.

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